O Viaduto Major Quedinho liga as duas pontas da rua homônima, uma de cada lado da Avenida Nove de Julho, que passa no vale do Rio Anhangabaú, hoje canalizado. Nenhum dos dois lados da rua, um no Bixiga e outro na República, tem mais que meio quarteirão: a maior parte da rua é mesmo sobre o viaduto. Eu arrisco dizer que ele é o viaduto de menor movimento de carros no centro de São Paulo. Mesmo em horários de pico, quando o vizinho Viaduto Nove de Julho está abarrotado de carros, é raro ver-se congestionamentos no Major Quedinho, que permanece uma excelente alternativa para quem precisa ir à Bela Vista ou mesmo à Avenida Vinte e Três de Maio, pelas ruas da Abolição e Humaitá. O viaduto deve perder até para o Viaduto Diário Popular, no Parque Dom Pedro II, cuja demolição é cogitada há anos, devido ao fato de seu movimento ser pequeno — e, claro, por ele ajudar a degradar e enfear a região.
Se o Major Quedinho ajudou a degradar a região é algo debatível, afinal a degradação do centro é bem posterior à construção do viaduto, nos anos 1930. A foto abaixo foi retirada de um anúncio da Companhia City, publicado em 25 de janeiro de 1940 no jornal Folha da Manhã, exaltando a “majestosa” Avenida Nove de Julho, onde “a maior organização imobiliária e urbanística da América do Sul” oferecia “magníficos terrenos para a construção de prédios de apartamentos e outros grandes edifícios”. A famosa visão de boa parte do século passado, em que concreto era quase unanimidade como sinônimo de progresso. (Note na foto que o Viaduto Nove de Julho ainda não existia; ele só começaria a ser construído em 1947.)
Essa visão ainda existe, embora com menos unanimidade, tanto é que bem ao lado do viaduto está sendo erguido hoje um novo prédio de apartamentos, o tal empreendimento “Mood” (palavra inglesa que significa “estado de espírito”, “humor”, “disposição”, mas cujo significado a maioria das pessoas que lá vão morar ignorará; nomes como “Prédio Zú” simplesmente não são mais usados em São Paulo). Para levantá-lo, a construtora colocou sobre o muro do viaduto horrorosas placas vermelhas de metal encimadas por arame farpado, como se vê na foto que abre este texto. O lado bom dessas placas é que elas sumirão após a construção. O lado ruim é que a vista não melhorará. Pelo contrário, pois o “Mood” lá estará, bloqueando ainda mais uma visão que hoje já é bloqueada por uma parede de edifícios.
Uma das coisas que me agradam nos antigos viadutos do centro é a integração que eles proporcionam, com escadarias ligando seus altos ao que está embaixo. Não sei como era o movimento nessas escadarias nos anos 1940, quando elas tinham acabado de ser inauguradas. Pode ser que nunca tenham sido efetivamente usadas com frequência. Alguém sabe dizer? Mas é fato que nas últimas décadas o abandono delas por parte do poder público transformou-as em locais malcheirosos e onde é difícil sentir-se seguro. Não é difícil encontrar por ali moradores de rua e drogados.
O abandono é visível na foto abaixo, com uma grande rachadura que claramente não é de hoje, e inúmeras pichações. Como a foto não tem cheiro, você vai ter de confiar em mim quando digo que ali fedia urina. E, ainda assim, é fascinante a vista que se tem ali da Avenida Nove de Julho, na direção dos Jardins.
É de se esperar que ao menos que, quando as placas forem retiradas, sejam tomados os devidos cuidados para que o muro do viaduto não seja danificado. O viaduto é um bom representante da arquitetura art-dèco dos anos 1930, com suas escadarias descendo rumo à Avenida Nove de Julho. É uma construção das mais sólidas, porém não imune a maus cuidados, como comprovado pelo pedaço oposto ao da construção, onde uma avaria é bem visível (abaixo). Ela não está limitada ao revestimento, e o reparo foi porco e incompleto.
A avaria não é a única coisa que chama a atenção na foto acima: o Edifício Viadutos, bastante visível a partir dos dois viadutos quase pararelos — e a partir do também vizinho Viaduto Jaceguai, à direita do prédio, que fica em frente à Câmara Municipal —, é outro marco da região. Praticamente de frente para o Viaduto Nove de Julho, de seu terraço no topo deve-se ter uma vista maravilhosa, apesar do verdadeiro paliteiro de prédios do centro da cidade. Abaixo, vê-se o prédio e o Viaduto Nove de Julho, além de um estacionamento que fica entre este e o Viaduto Major Quedinho, na Rua Álvaro de Carvalho. Será que um dia alguém levantará um prédio nesse terreno? Não seria o primeiro a se interpor entre os dois viadutos, mas seria o único a ficar isolado. Vale lembrar que o terreno do Edifício Mood era um estacionamento até o ano passado, assim como o terreno onde o Edifício Urbe será erguido, um pouco mais para baixo na Álvaro de Carvalho, além do Viaduto Nove de Julho.
No dia do meu passeio, eu cruzei o viaduto da República para o Bixiga. O prédio que fica, nesse sentido, à esquerda logo após o viaduto passar por cima da Nove de Julho, é bastante charmoso. Seu nome provavelmente está coberto pelas trepadeiras, mas é Edifício Major Quedinho e foi construído em 1954. Ele tem simpáticas varandas, cuja vista será daqui a alguns meses encurtada pelo Edifício Mood. Em seu térreo, ele tem algo em extinção em São Paulo: uma locadora de vídeo/DVD.
O passeio não acabou por aí, pois ainda tive de cruzar o Bixiga para chegar em casa, mas o Viaduto Major Quedinho já tinha sido cruzado. Quando alguém fizer o mesmo caminho no ano que vem, a paisagem já estará bem diferente. Não para melhor.
Legal! E os detalhes dos viadutos vão ficando cada vez mais escondidos. E as avarias nunca são consertadas, ninguem liga, nem os usuarios nem a pprefeitura.
Raramente passo por ai , mas já passei e as escadarias são reamente uma lastima ( fedorentas e perigosas ) , mas a beleza arquitetonica quebra esta defamação.
Giba
Uma lástima, mesmo, pois, para mim, elas são a coisa mais legal desses viadutos. E olha que a arquitetura em si já é muito legal!
Passei muito pelo Viaduto Major Quedinho, quando trabalhei no Jornal da Tarde (1966/70). Morava na Vila Olímpia e tomava o ônibus ali na 9 de julho. As escadas que levavam do viaduto para a avenida serviam de banheiro para uns porcalhões. Coisa que continua acontecendo, infelizmente.. abrss
Alguém poderia me informar quem era esse tal de major quedinho?
GOSTARIA MUITO DE SABER A HISTÓRIA DO NOME MAJOR QUEDINHO, DIZ MEU PAI QUE O MAJOR ERA SEU BISAVÓ, MAS NÃO TEMOS NENHUM DOCUMENTO NEM FOTOS, SE ALGUÉM SOUBER ME DIZER, AONDE POSSO ACHAR DOCUMENTOS, FOTOS, AGRADEÇO
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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).