Este texto tinha sido publicado em 20 de janeiro, mas, devido aos comentários, a página original virou quase um fórum para discussão sobre um possível golpe. Com isso, decidi mover o texto sobre as casas da Rua Carlos Sampaio para uma nova página, mantendo na página original as informações acumuladas sobre o assunto em questão.
Seis meses atrás a Rua Carlos Sampaio foi surpreendida pela demolição das casas que existiam em seus números 75 e 83. O terreno onde elas ficavam hoje tem um estande de vendas para um novo empreendimento imobiliário com nome em inglês, algo que não é novo na região. Apesar de essas duas casas terem tombado, ainda há muitas outras na rua.
Mas por quanto tempo?
Não faço ideia. Talvez por muito tempo, talvez por apenas mais algumas semanas ou meses. No caso das que foram demolidas em agosto passado, eu não tinha fotos delas inteiras, e muito me arrependo disso, especialmente ao lembrar que moro a não mais que três quarteirões dali e as casas, especialmente a de número 75, sempre tinham-me chamado a atenção. Em um domingo de sol resolvi fazer um passeio pela Carlos Sampaio para catalogar as casas que ainda resistem por ali.
A casa no número 14 da Rua Carlos Sampaio é talvez a mais ameaçada de vir abaixo. Nada que seja visível na foto, mas já faz muito tempo que ela não é regularmente ocupada. Tudo indica que seu último uso foi comercial, e ela até sofreu algumas pequenas reformas nos últimos anos, mas está sempre fechada. O maior impedimento para ela virar um novo empreendimento é que seu terreno não é dos maiores, e ao lado não há para onde crescer, pois do lado direito há um estabelecimento comercial, que era uma padaria até 2009 e hoje é uma loja recém-aberta da rede Super Pan Pizza. Do lado esquerdo, há a casa do número 26, abaixo.
Nesta casa azul funciona uma empresa de contabilidade, informação que só está disponível via Google, pois não há placa alguma na frente. Tendo uma empresa como ocupante garante que a casa está em bom estado. A menos que ela esteja alugada e seu proprietário tenha interesse em vender, a casa está segura.
Sendo o endereço do Restaurante Artes, que consta no guia anual da revista Veja São Paulo há uma década, a casa no número 48, bem na esquina com a Rua Fausto Ferraz, também parece estar segura. Essa casa é conhecida pelo portão, que tem grafitada a imagem de um homem barbudo. Segundo reportagem do Jornal da Tarde em 11 de outubro de 2006, o grafite é um autorretrato de Rodrigo Cunha, filho do proprietário do estabelecimento. “O artista quer mesmo chamar a atenção, mostrar que está no mundo”, disse Cunha ao JT na época. Segundo ele, o retrato também servia para que ninguém pichasse a fachada. Até ali, eram seis anos sem pichações, e não me lembro de ela ter sido pichada nos quatro anos desde então.
Hoje a casa de número 135 é ocupada por um cabelereiro. Até meados da década passada era ocupada por um centro de fisioterapia e depois chegou a ficar desocupada por algum tempo. A fachada do térreo já foi desfigurada por reformas, mas o estado é muito bom.
Os números 148 e 150 são ocupados por duas casas geminadas. No número 148, à direita na foto, funciona outro cabelereiro, que por algum motivo que desconheço mantém três manequins numa vitrine, como se fosse uma loja de roupas. Já o número 150 é ocupado por um escritório de advocacia.
Ao lado dos dois sobrados existe a entrada de uma vila. Já não é mais a Rua Carlos Sampaio, pois a ruazinha tem nome, Rua Antônio Porrio. Ela é fechada por um portão e termina em “T”. Nela há apenas casas, sendo que as do fundo ficam logo atrás do Extra da Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Não entrei ali, mas o Google Maps é de grande auxílio para dar uma ideia da vila.
Na outra esquina da Antônio Porrio com a Carlos Sampaio, mais uma casa, de número 158. No dia em que bati as fotos havia uma placa de aluguel na frente. A casa está bem conservada e tem vegetação abundante que impede uma boa foto de frente. Pelo fato de não estar à venda, parece também segura.
Para chegar à casa seguinte, temos de atravessar a Rua Cincinato Braga. A casa de número 305 é sede da reginal Paulista do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, e é sem dúvida a casa em melhor estado na rua atualmente. As venezianas são uma beleza.
Ao lado do número 305 fica a casa de número 317, aparentemente contemporânea à primeira, mas num estado bem pior, além de ter tido ao menos as janelas frontais do segundo andar desfiguradas. Na varanda em frente à porta de entrada, às vezes há uma barraquinha improvisada de venda de doces, salgados e bebidas.
Espero que na próxima vez que eu catalogar as casas da Rua Carlos Sampaio nenhuma das casas acima tenha sumido.
Logo, logo, Alex, quando o chamado progresso derrubar essas belas casas de uma região privilegiada, dando lugar a mais e mais espigões, seu trabalho servirá de documento inestimável, mostrando aos que estão chegando como era São Paulo. Parabéns pelo trabalho. Obras primas. abrssss
Não tenho vergonha de escrever o seguinte:
Em frente ao meu computador chorei, deu um nó na garganta e um aperto no coração ao ver tantas casas, sobrados antigos e etc…indo ao chão.
É asustador saber que a maldita EXPLORAÇÃO IMOBILIÁRIA está pondo no chão pedaços de nossa história, peças únicas de uma era que não volta mais.
Deixo aqui o meu desabafo, compartilhando com todos que amam fachadas antigas e que acreditam que poderiam ter um destino diferente, mais digno…
Estamos ficando sem identidade dentro de nós e fora, nos matando aos poucos.
Um abraço!
E não é só a história indo para o chão, Evandro; a qualidade de vida das regiões que têm uma casa substituída por um espigão (lembremos que hoje em dia quase só se lança prédios com dezenas de apartamentos minúsculos) também sofre uma queda vertiginosa.
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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).