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Demolição na Martiniano de Carvalho

Demolição na Rua Martiniano de Carvalho

Não era um prédio — ou seria um galpão? — particularmente bonito. Nem devia ter ele grande valor histórico. Mas a barulhenta demolição que ocorre neste momento na Rua Martiniano de Carvalho, aqui na Bela Vista, é tão inquietante quanto a do casarão na esquina das ruas Antônia de Queiroz e Augusta. Sim, é um pedaço da memória do bairro que vai para o chão, mas é difícil dizer que seja um pedaço significativo. O prédio não era tão antigo nem tinha características marcantes de nenhum tipo de arquitetura. Até o ano passado ele era a sede de um estacionamento que ocupava um grande terreno que vai da Martiniano de Carvalho até a Rua Artur Prado.

Então por que é tão preocupante essa demolição?

Porque ela simboliza o fim da tranquilidade de um bairro que, apesar de ter vários prédios, ainda é uma “ilha” a poucos quarteirões da Avenida Paulista. Em geral, os prédios do quadrilátero formado pelas ruas Pio XII, Maestro Cardim, Pedroso e Dr. Alfredo Ellis são mais antigos. Isso significa menos apartamentos por prédio, menos gente morando neles e menos carros deixando os locais a cada manhã. Para se ter uma ideia, é muito fácil achar vagas para estacionar em boa parte das ruas compreendidas no quadrilátero supracitado, desde que não seja em horário comercial de dias úteis, quando as vagas são tomadas pelo pessoal que trabalha nos hospitais próximos e no prédio da Telefónica, na Martiniano de Carvalho.

Demolição na Martiniano de Carvalho vista por trás

Mas agora, no terreno onde havia o estacionamento que ia da Martiniano à Artur Prado surgirá um daqueles monstrengos de apartamentos com dezenas de apartamentos de quinze metros quadrados (ou, vá lá, um pouquinho maiores). Os prédios da região, boa parte deles construídos entre os anos 1960 e 1970, quando muito, têm uns sessenta apartamentos. É como se esse novo projeto, com nome em inglês e chamado de maneira quase criminosa nosso bairro de “Paraíso”, representasse quatro prédios dos antigos, mas no mesmo espaço de um. No Google Maps é possível ver o tamanho do terreno, embora a foto ainda seja de quando o estacionamento ainda funcionava ali. Serão, na verdade, 232 apartamentos com 41 metros quadrados (um dormitório, sendo 3,2 metros quadrados de varanda) e 55 metros quadrados (dois dormitórios, sendo 4,8 metros quadrados de varanda, o que é pouco menos que o segundo quarto, onde é impossível colocar-se de maneira prática uma cama de casal). Quando do pré-lançamento, corretores distribuíram vários folhetos sobre o empreendimento, oferecendo a quem comprasse uma unidade televisores e até crédito de quinhentos reais na Padaria Dengosa, poucos metros acima do local.

O endereço do prédio será na Rua Artur Prado, mais calma que a Martiniano, mas a um quarteirão da Rua Santa Madalena, um gargalo nos horários de pico para quem quer acessar a Avenida Vinte e Três de Maio em qualquer de seus sentidos. Com a entrada pela Rua Artur Prado, a parte do bairro onde sempre é fácil estacionar à noite e aos fins de semana tende a ficar mais carregada de carros. Afinal, se um décimo dos apartamentos receber uma visita cada um num sábado à noite, por exemplo, serão 23 carros a mais. A pequena Rua Cunha Bueno, que fica entre a Artur Prado e a Alfredo Ellis, em frente ao empreendimento, tende a ficar abarrotada. A qualidade de vida de quem já mora no bairro vai ser comprometida, até porque há outro empreendimento similar sendo erguido meio quarteirão para baixo na mesma Artur Prado.

Janela de prédio demolido na Martiniano de Carvalho

4 comentários

Ralph Giesbrecht (42)

Significa mais transito, mais habitantes, mais necessidade de infraestrutura, etcc

15 de janeiro de 2011, 11:51

Douglas Nascimento (14)

Esse ai é perto do centro, paulista, brás e sorocaba ?

15 de janeiro de 2011, 13:26

Alexandre Giesbrecht

Parece que de Sorocaba, não. Só chega a Araçariguama.

15 de janeiro de 2011, 17:43

Lidia (1)

Lembro me até hoje pois morava nesse prédio verde ao lado, foi realmente ruim pois lembro-me que usávamos esse estacionamento que se transferiu para o outro lado tendo uma saída na Pio XII. Foram muitos meses de muito “bate estaca” fiquei muito triste com a desvalorização do nr 654 e o fato do novo prédio erguido atrapalhar as estruturas do antigo prédio, e a construção de forma evasiva acabou com o sol que batia na sacada traseira e com toda a privacidade que lá havia!

21 de abril de 2016, 18:57

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Quem?

Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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