Ontem à noite passei rapidamente e com pressa em frente às casinhas da Rua Carlos Sampaio que ficam em frente à esquina com a Rua Fausto Ferraz. Se na semana passada tive alguma esperança de que talvez elas não fossem demolidas, essa esperança ruiu com a constatação de que o telhado já tinha vindo abaixo e que a demolição total seria coisa de dias, senão horas. No final da manhã de hoje, pois, corri até lá para bater algumas últimas imagens.
“Algumas” é força de expressão, pois tirei 56 fotos, graças ao pessoal que autorizou minha entrada nos dois imóveis. Ambos sem o telhado e já com o segundo andar sem condições de ser visitado. Na antiga cantina, que fica na altura do número 83, pude perceber que o imóvel já tinha sido bastante descaracterizado por no mínimo uma reforma, deixando-a com cara, bem, de uma cantina. Já a casa do número 75, mesmo sem telhado e boa parte das paredes, além de muito entulho espalhado por quase toda a área outrora útil, preservava sua imponência, como se pode ver nas foto acima e abaixo.
Olhando por dentro da casa, é inevitável imaginar como seria a vida ali. Vê-se os restos do que possivelmente era a sala de jantar (primeira foto abaixo), com prateleiras embutidas. O que teria sido colocado nelas quando a casa foi construída? Teria havido uma porta na frente? Qual seria a decoração? Não sei há quanto tempo a casa estava fechada, mas acredito que ainda estejam vivas algumas das pessoas que lá viveram ou ao menos frequentaram. O que pensariam essas pessoas? Será que sabem o que está acontecendo? (Não que haja alguma coisa a ser feita, claro.) Não passei pela experiência de ver demolida uma residência onde já morei. Considerando que sou de São Paulo, talvez seja questão de tempo até eu passar por isso.
Talvez pelo fato de a cantina ter desfigurado a casa ao lado, senti-me um pouco menos triste ao visitá-la. No térreo, boa parte das paredes internas já haviam sido retiradas, e as paredes da parte de trás, mesmo as externas, eram todas recobertas por azulejos. Se um dia essa casa teve um estilo parecido com o de sua vizinha, isso já não está mais aparente. O salão que um dia teve inúmeras mesas hoje pela manhã abrigava quatro privadas e muito entulho. A escada, aparentemente original, quase destoava do cenário de destruição, embora já não leve mais a lugar algum.
Assim como na casa vizinha, o segundo andar já é história. As cores das janelas e dos “frisos”, ainda razoavelmente berrantes, dão uma impressão de vida ao lugar que um olhar mais atento rapidamente dissipa.
Parte do muro que separava as duas casas já foi abaixo, o que apenas realça o óbvio: a intenção é juntar os dois terrenos. Ainda não sei o que será feito no lugar das casas, mas já dá para saber que será um downgrade. As alternativas são algum tipo de comércio (improvável pelo histórico de estabelecimentos comerciais na rua), um estacionamento ou um espigão de apartamentos, provavelmente com nome estrangeiro, muita área de lazer e área útil equivalente à de uma casinha de cachorro. É uma pena.
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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).