Pseudopapel

Pedestres paulistanos têm muito o que aprender

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…e os motoristas têm mais ainda, claro, tanto é que pedestre algum pode se dar ao luxo de atentar-se apenas à faixa de pedestres em São Paulo, mesmo depois de a Prefeitura ter começado a intensificar a fiscalização desse tipo de abuso. Afinal, mesmo em esquinas patrulhadas por marronzinhos não é nada difícil ver motoristas solenemente ignorando não só as zebras no asfalto, como os seres humanos andando sobre elas.

Eu mesmo já pouco liguei para as faixas, e não só porque se o fizesse corerria risco de alguém bater no meu carro por trás. O pior é que isso não fazia sentido, pois durante praticamente toda a minha vida adulta eu sempre fui — e ainda sou — mais pedestre que motorista. Mas, desde que começaram as campanhas, eu comecei a me policiar sobre as faixas quando estou atrás do volante. Não tenho sido perfeito, claro, mas tenho errado cada vez menos.

Mas também comecei a me policiar quando pedestre também, e isso parece estar faltando. Apesar das campanhas e, principalmente, das multas, os pedestres seguem comportando-se como se nada tivesse mudado. Não digo que todos têm de começar a atravessar as ruas de olhos vendados, claro. Mas é irritante você dobrar uma esquina, parar diante da faixa ao ver um pedestre chegando para atravessar e… ele simplesmente para e imediatamente olha para o outro lado! É até compreensível, pois ele não espera que alguém vá parar na selvageria que é o trânsito de São Paulo.

Mas eu paro. E há outros que param também. E há até os que não costumam parar, mas, quando atrás de alguém que para, não saem buzinando, porque se lembraram de que o correto nessa situação é dar vez ao pedestre. A maioria dos pedestres, entretanto, simplesmente se conforma, e não consigo pensar num verbo melhor do que esse para retratar a situação.

A CET tem divulgado já desde o segundo semestre do ano passado que os pedestres que queiram atravessar devem fazer um sinal com a mão. Eu simplesmente não vejo isso. Acho até exagero o sinal; a campanha deveria conscientizar os motoristas, e eles não deveriam esperar um “sinal” para parar. Mas, diante de tantos pedestres que estão conformados em criar raízes a cada esquina, começo a ver que o sinal é necessário, sim. Não que adiante muito, porque nunca consegui parar o primeiro carro ao fazer o sinal. Nunca. Muitos até me olham com estranheza: “O que esse sujeito está fazendo acenando para mim?”

A esquina das ruas Pedroso e Martiniano de Carvalho é um excelente exemplo disso. O fluxo de veículos que vêm da Pedroso e viram à esquerda na Martiniano é grande, e não há sinal de pedestres ali. Então, claro, a preferência é do pedestre. Ou deveria ser, porque não é. Atravessar ali é muito difícil. Já quase fui atropelado ali uma vez por um taxista que, quando viu que eu já estava a meio caminho na faixa, resolveu acelerar (!) para passar primeiro. Eu tinha tempo para atravessar, e não precisava nem correr, mas o sujeito acelerou. Quando eu percebi, apertei o passo, mas ele tinha jogado o carro para o mesmo lado. Poderia ter-me acertado, mesmo com o tempo que eu tinha para atravessar e a minha atenção. Não o fez por sorte.

Hoje ainda ocorreu comigo uma situação que eu imaginava que não demoraria muito tempo mais para eu ver. Curiosamente, foi também na Martiniano de Carvalho. Eu estava na Rua Humaitá e viraria à direita na Martiniano, mas havia um pedestre esperando na faixa. Parei, pois. Ele fez sinal para eu passar. Pedi, com a mão, para ele passar. Antes que ele pudesse reagir, o carro que estava atrás de mim me ultrapassou por dentro da curva. Se o pedestre tivesse seguido a minha indicação, teria alguma chance de ser atropelado por um fominha ignorante, apesar de outrem ter cumprido a lei para deixá-lo passar.

5 comentários

Luiz Felipe Pedone (1)

Interessante ver que pelo menos aí há algum interesse em mudar a mentalidade do motorista em relação à faixa de pedestre. Aqui em Belo Horizonte, exceto em alguns lugares específicos, é raríssimo algum motorista respeitar à faixa.

Eu ando muito a pé. Moro relativamente perto do centro e ando mais ou menos 3km para ir para o estágio. Faço isso há mais de seis meses. Nesse tempo, notei que as pessoas simplesmente aceitam que os motoristas não respeitam a faixa e, mesmo quando o motorista respeita, não atravessam.

Antes de voltar a frequentar o centro da cidade, passei 3 anos vivendo quase que exclusivamente dentro do campus da UFMG. Lá a grande maioria dos motoristas respeitam as faixas e, talvez por isso, os pedestres ocupem o seu espaço. Dentro do campus é normal o pedestre atravesar sem medo de ser atropelado, mesmo com um carro vindo em sua direção.

13 de maio de 2012, 23:51

Alexandre Giesbrecht

Aqui, por enquanto, o interesse é de poucos. Como coloquei acima, os próprios pedestres, em sua grande maioria, parecem conformados com o fato de não terem vez no trânsito, haja vista a postura mencionada de chegar à faixa de pedestres e olhar para o outro lado. Ainda vejo poucos motoristas respeitando as faixas, e, quando o faço atrás do volante, não é tão raro assim alguém tentar me passar pelo lado ou ficar atrás buzinando. E o que você fala que ocorre na UFMG não é visto com frequência aqui em nenhum lugar, nem na USP, que seria o ambiente mais similar.

14 de maio de 2012, 8:54

João Eduardo (9)

Compreendo a situação que muitos motoristas passam. Devo até admitir que já fiz isso, mas por medo. Normalmente, atravesso a rua como “louco”, olho discretamente pros lados, somente para ver se vem algum carro, mas mesmo assim atravesso. Estou na faixa de pedestre, e a preferência é minha. No entanto, muitas vezes isso não é possível, pois muitos motoristas veem em altissíma velocidade, e apesar de estar consciente do meu direito, prefiro ficar esperando na calçada. Diversas vezes isso já ocorreu cmg na faixa de pedestre perto da estação Santa Cecília do Metrô – aquela que fica em uma saída do minhocão, ao lado do terminal. Muitos motoristas descem muito rapidamente, e isso me deixa muito inseguro a ignorar esse carro e simplesmente atravessar. Então, ao se aproximar da faixa, o motorista freia bruscamente, e ainda se revolta pelo pedestre ter demorado a atravessar. O contrário tb acontece, as vezes o motorista passa a impressão de que irá parar, devido a sua velocidade, mas não para, e ainda xinga o pedestre.

Definitivamente, não sei como perceber se o motorista irá dar a preferência ao pedestre ou não. O critério velocidade de aproximação tem se mostrado bastante ineficiente comigo – ou sou eu que não tenho uma boa percepção disso. O fato é que seria muito legal poder atravessar a faixa sem medo, sabendo que nada acontecerá, como manda a lei, mas isso não é possível. No exemplo que citei, muitos ignoram o fato de estar na faixa, e não param – talvez por eu ser homem, não sei. O mais cômico é que muitos se apressam sem sentido, por que no cruzamento com a São João há um farol, e mesmo qdo ele está vermelho, a pessoa ñ respeita a faixa.

23 de julho de 2012, 1:20

Alexandre Giesbrecht

Olá, João. Ainda falta muito para equilibrar esse dilema, dos dois lados. Já faz quatro meses que escrevi o texto acima, e posso garantir que nada mudou. Ainda não vi um pedestre fazer o sinal, a não ser eu mesmo, e ainda não consegui nunca fazer parar o primeiro carro. Se bobear, nem o segundo ou o terceiro. E continua mais ou menos a mesma proporção de pedestres que chegam à faixa de pedestres, param e imediatamente olham para o outro lado. Quando estou ao volante, já tento demonstrar de longe minha intenção de dar prioridade, mas nem sempre ela é percebida. Quem faz a “mãozinha” sou eu, atrás do volante! (Provavelmente até cometendo uma infração, por tirar uma das mãos dele.) A campanha da CET já arrefeceu, e ainda são pouquíssimos motoristas a respeitar a faixa onde deveriam. Na esquina que eu cito acima da Martiniano com a Pedroso até colocaram um sinal de pedestres, mas apenas no lado em que os motoristas param na Pedroso. Um sinal inútil, pois ali já havia e há o sinal para os carros. Quem vira à esquerda na Martiniano ainda ignora os pedestres, e presencio isso diariamente. E essa é só uma dentre as milhares de esquinas similares na cidade!

23 de julho de 2012, 8:56

João Eduardo (9)

Sobre o sinal, é algo bastante desnecessário, e nem um pouco funcional. Se os motoristas obedecessem ao menos… De tanto fazer esse sinal e ser ignorado, desisti. Algumas vezes quase perco o braço, dependendo de como se faz esse gesto, não importa a atenção que se tenha.

A verdade é que o pedestre, de fato, não tem preferência no trânsito, e isso gera essas atitudes por ambas as partes. Aliás, em várias situações do cotidiano se pode reparar esses tipos de atitudes individualistas, como pedestres atravessando sem a devida atenção, motoristas que não dão a preferência, veículos que não dão seta, isso só para citar situações relacionadas ao trânsito.

Até no simples ato de andar em uma calçada se pode notar desrespeito com o próximo. Muitos ocupam toda a calçada, não deixam ninguém ultrapassá-los ou impedem o fluxo no sentido contrário, ficam zigue-zagueando, andando em grupo ocupando todo o espaço disponível, e muito mais.

25 de julho de 2012, 23:29

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Quem?

Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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