Como tenho feito em quase todas as semanas desde a primeira edição, comprei a revista Sãopaulo — ou, mais precisamente, comprei a Folha de S. Paulo de domingo, que vem com a revista encartada. E, como tem sido quase a regra, fiquei decepcionado. A revista deveria tratar da cidade. Falar de seus problemas, das pessoas que a constróem, da sua história, de seus projetos, de suas ideias. Em vez disso, faz reportagens que citam São Paulo apenas genericamente. A capa da edição de domingo passado é um perfeito exemplo disso: “Enomania — De R$ 23 a R$ 100, um guia para descobrir qual vinho tem o seu estilo”. E isso tem a ver com São Paulo porque…? Bem, não tem.
As duas páginas de abertura da respectiva matéria ainda tentam encaixar a cidade, com uma foto do skyline do centro, estragada pela silhoueta negativa de uma garrafa de vinho, e o título “Cidade engarrafada”, mas tudo parece apenas um artifício para justificar a reportagem, cujo objetivo confesso é “dissolver a pompa que ainda cerca a bebida”. Não sei avaliar, e nem pretendo, se a matéria é boa ou ruim, mas está na cara que ela teria lugar num suplemento sobre comidas e bebidas, na Ilustrada ou até no Cotidiano. Na Sãopaulo simplesmente não se justifica.
A edição da semana passada também lista 12 das 51 capas já publicadas, o que só serve para comprovar a minha tese. Nas oito primeiras há assuntos que não me interessam, mas que se encaixam perfeitamente em uma revista do tipo. Já as quatro últimas são fúteis e com nada ou muito pouco a ver com a cidade. A saber:
Se compararmos as reportagens de capa acima, selecionadas pela própria equipe que faz a revista, com algumas das primeiras capas, é de entristecer. A número 1 trouxe fotografias inéditas da construção da Linha 4 do Metrô. O número 7 falou do dia a dia de uma penitenciária feminina paulista (matéria que não me interessa nem um pouco, mas que tem a ver com o que a revista deveria abordar). O número 12 trouxe talvez a melhor reportagem de capa da ainda curta história da Sãopaulo, falando sobre lojas fundadas no início do século passado e que ainda persistem. Mesmo recentemente houve alguns bons exemplos, como a matéria sobre os flanelinhas publicada em março e a sobre vagas de estacionamento publicada em abril. Foram reportagens que se aprofundaram em problemas reais da cidade.
A revista ainda está devendo reportagens sobre a história de São Paulo, algo que tem sido muito bem abordado pela mensal Época São Paulo, revista que também tem tido seus maus momentos. Já a Veja São Paulo parece estar se recuperando de um passado recente em que matérias sobre “o dentista das celebridades” e afins quase dominaram as pautas de capa, mas ainda está longe do que foi principalmente nos anos 1980, quando a cidade estava estampada em suas páginas.
Nas páginas de Sãopaulo, definitivamente, São Paulo ainda não está estampada. Por muitas vezes, a impressão que tenho é de folhear a finada Revista da Folha, que muito raramente tinha algo interessante (como uma reportagem sobre o Edifício São Vito publicada em 2002) e um ano atrás deu lugar à Sãopaulo. Sem dúvida, a versão atual é melhor, mas ainda tem muito o que evoluir.
Concordo que ela é melhor que a revista anterior e que ainda tem muito a melhorar. Também não gosto dessas matérias de “celebridade” local. Mas até que oito de 12 está uma proporção melhor do que eu imaginava. abraços
Oito de doze numa seleção deles, né? Porque, especialmente a partir do número 18, pululam as capas fúteis e nada-a-ver, muitas delas não listadas. A saber: 18 (“A chef Ana Soares é o cérebro por trás de 60 cardápios de restaurantes e bares paulistanos”), 20 (“Um ano depois da estreia no cinema, Laura Neiva se arrisca no teatro e flerta com Hollywood”), 27 (“A rotina de paparicos nos hotéis mais exclusivos da cidade”), 28 (“130 dicas de presentes, roteiros de compras a pé em 7 bairros da cidade, 45 lojas de shopping que valem uma visita”), 32 (“Os bastidores do Balé da Cidade, que festeja neste ano o centenário do Teatro Municipal”), 34 (“Punta é nossa” — “Punta é nossa”?!), 38 (“[Osesp] inicia temporada 2011 com sangue novo e vontade de ser mais popular”), 44 (“Cinco empreendedores apresentam as fábricas paulistanas que abastecem a Páscoa do Brasil”), 45 (“Com ateliês e galerias, a Barra Funda desenha um novo mapa artístico na cidade” — a reportagem pouco fala sobre o bairro em si) e 48 (“Os ingredientes que fizeram a rede paulistana de restaurantes abocanhar 180 mil clientes por mês”). Para ser justo, deixei de fora dessa lista várias capas com assuntos pouco interessantes (para mim), mas que se encaixam na maneira como vejo uma revista dessas, como as listas de lugares para visitar e coisas para fazer.
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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).