Maria Angélica Souza Queiroz Aguiar de Barros (1842–1929) era dona de muitos terrenos no local onde fica a atual Avenida Angélica. Ela mesma morou ali, em um palacete inspirado no Castelo de Charlottenburg, existente nos arredores de Berlim. O palacete ficava na esquina da avenida com a Alameda Barros, alameda esta que, não por acaso, também deve seu nome a Dona Angélica. Assim como há duas ruas com seu nome, também houve duas estações de metrô com seu nome. Nenhuma das duas estações, no entanto, saiu do papel.
O planejamento do inicial do ramo leste da Linha Leste–Oeste do Metrô (atual Linha 3-Vermelha) previa a utilização a linha-tronco da Central do Brasil, atual Linha 11-Coral da CPTM, que pertenciam à Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Era uma decisão que abreviava o tempo de construção e, especialmente, os custos. Metrô e RFFSA não chegaram a um acordo, e a Linha Leste–Oeste começou a ser construída em março de 1975 apenas acompanhando, ao sul, os trilhos da Central do Brasil. O primeiro trecho, entre as estações Sé e Brás, foi inaugurado quatro anos depois, mas treze anos se passariam desde o início das obras até que o ramo oeste ficasse completo, com a inauguração da Estação Corinthians-Itaquera.
Em junho de 1977, entretanto, o Metrô ainda não tinha decidido como seria o ramo oeste, que deveria ir até a Lapa, completando o eixo Lapa–Itaquera na linha. A primeira parte do ramo, entre as estações Sé e Barra Funda, parecia decidida, e era parecida com o que acabou sendo construído, mas com uma diferença importante: entre as estações Santa Cecília e Barra Funda haveria duas estações, não apenas uma. Hoje temos a Estação Marechal Deodoro, na praça de mesmo nome, esquina com a Rua Albuquerque Lins, em Santa Cecília. Nos planos de 1977 constavam duas estações, Angélica e Pacaembu. A primeira provavelmente na esquina da Avenida Angélica com a Praça Marechal Deodoro (a cerca de um quarteirão do já demolido palacete de Dona Angélica); a segunda na altura do Largo Padre Péricles. Os planos foram mudados em algum ponto ao longo dos treze meses seguintes, pois em 1 de agosto de 1978 o então prefeito Olavo Setúbal apresentou o projeto de construção do Terminal Intermodal da Barra Funda, e nesse projeto já constava uma estação na confluência das ruas Albuquerque Lins e das Palmeiras, em vez das estações Pacaembu.
Ou seja, o primeiro projeto de uma Estação Angélica teve vida ainda mais efêmera que o segundo, eliminado na última semana. Esta nova estação faria parte da Linha 6-Laranja, ainda em projeto, e ficaria na esquina da Avenida Angélica com a Rua Sergipe, cerca de 1,4 quilômetro longe do local da estação cancelada 33 anos antes. O motivo alegado em 2011 foi a proximidade da estação com a parada seguinte, Higienópolis-Mackenzie, que ficaria a 650 metros — embora alguns tenham afirmado que o cancelamento deveu-se a um abaixo-assinado de 3,5 mil moradores do bairro de Higienópolis, apresentado um ano antes. Curiosamente, a primeira Estação Angélica ficaria a seiscentos metros da Estação Santa Cecília, o que torna possível que o critério usado em 1978 tenha sido o mesmo usado em 2011. Já a Estação Marechal Deodoro fica a cerca de oitocentos metros da Estação Santa Cecília e a cerca de 1,5 quilômetro da estação atualmente conhecida como Palmeiras-Barra Funda. A estação cancelada também ficaria a cerca de 1,1 quilômetro da também cancelada Estação Pacaembu, que, por sua vez, ficaria a cerca de oitocentos metros da Estação Barra Funda. (Parêntese: sim, eu sei que as somas dos dois percursos não batem como deveriam. É que elas foram estimadas usando o Google Maps em locais aproximados. Para prejudicar ainda mais, a soma que o Google Maps faz é por trechos percorridos a pé pela superfície, não em linha reta.)
Já para a segunda parte do ramo oeste, assim como em 1974, cogitava-se usar a partir da Estação Barra Funda o leito da ferrovia, desta feita o da linha da Sorocabana, operada pela Fepasa, a atual Linha 8-Diamante da CPTM. Sem o aval da Fepasa, sobrariam duas opções para chegar à Lapa via Rua Guaicurus: pelas ruas Turiaçú, Clélia e Aurélia ou Avenida Francisco Matarazzo. O grande problema de fazer o caminho pela Rua Turiaçú tinha alguma semelhança com o problema que o segundo projeto de um Estação Angélica enfretaria mais de três décadas mais tarde, pois passava por uma área residencial valorizada. Talvez esse não tenha sido o motivo para descartarem esse caminho, mas certamente pesou no fator, e não foi necessário nenhum protesto de moradores: a desapropriação dos imóveis exigiria um alto valor. De qualquer maneira, a segunda parte do ramo oeste nunca saiu do papel. A Linha 3 do Metrô viu suas últimas estações, Marechal Deodoro e Barra Funda, ser inauguradas em 1988 e nunca mais teve sua malha estendida.
Como sempre: desculpas, em primeiro momento, técnicas. É complicado, muito mesmo de pensar que haja pessoas com um desinteresse grande em transporte público servir determinado local. Ninguém lembra que isso valoriza muito a localidade, ao invés de causar o detrimento (e ainda leve em conta que, se continuarem a construir prédios antes subterrâneos aos “pequenos shoppings”, semelhantes aos da Linha 4), ganha-se mais ainda em valorização.
O protesto, de forma bem humorada e pacífica, realmente veio bem a calhar e deveriam ocorrer outros como ele quando a população perceber que uma estação não foi inaugurada no prazo, uma linha não teve seu projeto iniciado ou mesmo, como houve no começo desse ano, a “mudança súbita de humores” da imprensa e do secretário de transportes metropolitanos que, numa hora afirmava que o VLT da baixada estava descartado, em outra, volta a cogitar, numa outra a CPTM não seria mais a cia. a encabeçar o projeto e transfere as competências pra EMTU e assim por diante…
É triste saber desses fatos, mas, isso muda, com toda certeza. Resta a nós cobrar, para que pessoas com afirmações tolas parem de se movimentar contra os transportes públicos de São Paulo.
Eu acho que a alegação técnica se justifica, embora tenha dúvidas se ela foi o motivo principal. Se não foi, entretanto, duvido que o abaixo-assinado com 3,5 mil assinaturas tenha tido papel determinante nesse caso. Acho que o abaixo-assinado — e a tal psicóloga que criou ou não o termo “gente diferenciada” — virou obode expiatório da história. Afinal, a pressão não seria muito maior se viesse de um Abílio Diniz, por exemplo? E, não por coincidência, o supermercado a ser desalojado seria justamente dele. Só não entendo por que ninguém levantou essa hipótese, que parece ser bem mais provável que o pessoal levar em conta as assinaturas de 6% da população de um bairro.
Concordo com vc, Alexandre. Principalmente depois das notícias sobre a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour !!!! Higienópolis, que não é um bairro, e sim subdistrito de Sta Cecília, tem as estações Sta Cecília, Mal Deodoro, a Consolação (junto a região de Cerqueira César), terá em 2012 a Mackenzie (na esq. da Consolação c/ R. Piauí). A Av Angélica é estreita, as calçadas são estreitas, os prédios deixaram pouco recuo, a pista é simples com mão dupla de direção, e mal comporta os ônibus. Acho que uma estação mais próxima da FAAP e Estádio Pacaembu seria mais útil. OBS : sou morador de “Higienópolis”.
No quesito técnico, o fato é que, se a linha 6 tiver/tivesse uma previsão, contando as baldeações com as linhas as quais ela se integrará ultrapassasse 1mi/dia e o embarque da Angélica fosse alto (algo em torno de 10 a 20mil/dia), a estação permaneceria no local onde foi planejada. Do contrário, 650 metros não é um grande problema: Liberdade fica a pouco + de 600 metros da Sé. Na linha 3, o mesmo com Anhangabaú.
Interesse de um poderoso? Pode haver com toda certeza. Além disso, não só um supermercado, bem instalado e que, segundo ouvi relatos já que pouco conheço a região, visitei somente duas vezes e me lembro de passagem do Pão de Açúcar, ele funciona 24h. Coisa que nem os moradores à favor do Metrô querem “se livrar” pela praticidade. O Metrô afirma que está em estudo manter a estação, porém num “meio termo” onde não mate a distância e não saia da região do Higienópolis.
Uma estação próxima ao Pacaembu só seria útil em dias de jogos, e a perspectiva para os próximos anos é de que haja cada vez menos partidas ali (infelizmente, pois é o melhor estádio de São Paulo). Na FAAP seria mais útil, mas ouvi dizer que o reitor andou pregando contra uma estação vizinha, por não ser útil para “seu perfil de alunos”. Eu já morei próximo à Praça Vilaboim, e a melhor alternativa de metrô era a Marechal Deodoro, e era uma bela de uma subida, tanto na ida (Aracaju) como na volta (Albuquerque Lins). Ali onde, segundo a Vejinha publicou (na esquina da Sergipe com a Bahia) parece mais viável do que na Sergipe com a Ceará, uma área totalmente residencial onde hoje há pouco movimento. Mas o tal túnel até a FAAP me parece um exagero. Sim, serviria para aumentar o fluxo de passageiros na estação, porque é um caminho mais curto para alcançar a faculdade, e sem a pirambeira da Alagoas ou as tortuosas curvas da Avaré. Mas imagino que o custo para uma obra desse porte sejam proibitivos.
Agora, a estação ali, a apenas uma quadra da posição original, também não resolveria o tal problema técnico. Italo, o problema não é só a pouca distância entre Angélica e Higienóplis-Mackenzie: o problema é a longa distância desde PUC Cardoso de Almeida, de dois quilômetros, mais de três vezes maior. Quando se tem essa situação, pode haver atrasos, especialmente no horário de pico, com composições sendo retidas na estação anterior. Mas com a nova estação na esquina da Sergipe com a Bahia só se ganharia uns cem metros, o que me parece muito pouco. Mesmo na Sergipe com a Ceará não se ganharia grande coisa, talvez uns duzentos metros. Ainda falta muita água rolar por aí.
O Pão de Açúcar da Angélica é, sim, 24 horas. Já me quebrou alguns galhos, assim como um outro 24 horas que fica perto de onde moro hoje, no Bixiga. Mas Pão de Açúcar é só para emergências, mesmo, com os preços que cobram. Se aquele de Higienópolis sair de lá, não tenha dúvidas de que outro surgirá, talvez de outra rede, porque passaria a ser um filão a ser explorado. É impressionante como há gente lá de madrugada. O Pão de Açúcar, mesmo, trataria de procurar algum local por ali, e certamente encontraria. Mas isso custaria dinheiro, muito dinheiro. Mais barato usar as influências para impedir que a estação fique ali. Não estou dizendo que houve tal pressão, mas que ela faria sentido, isso faria.
No Google Maps, uma boa forma de calcular distâncias em linha reta é um recurso do Google Labs, que faz exatamente isso.
Só entrar em http://maps.google.co.uk/?showlabs=1 e habilitar.
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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).