Pseudopapel

Minha carta ao JT tem texto que não é meu

carta-jornal-da-tarde

“Na seção ‘Há 20 Anos’ li que, em 1992, um estudo da USP mostrava que seriam necessários 300 anos para que o ensino público brasileiro se igualasse ao de países desenvolvidos (Opinião, 9/1, pág. 2A). Pois bem, já se passaram 20 anos desde que essa matéria foi publicada e no que avançamos? Tivemos alguma melhora? Eu, realmente, duvido de que as coisas tenham se tornado melhores. Na verdade, imagino até que o ensino público brasileiro tenha regredido, considerando toda a corrupção que assola o nosso país e a falta de compromisso de nossos políticos. Devemos precisar de mais do que 300 anos para deixar o ensino público em ordem.”

A carta acima foi enviada ontem por mim ao Jornal da Tarde — em forma de email, claro — e publicada na edição de hoje. Eu concordo com tudo que está escrito acima. Não, esta última frase não é tão surreal quanto parece, já que o texto em questão foi escrito involuntariamente a quatro mãos. O fato é que eu escrevi menos de 50% dele; o restante foi alguém do jornal que adicionou. O motivo para tal adição eu ignoro. Posso supor que fosse para preencher o espaço, embora isso esteja longe de justificar o fato de colocarem palavras na minha boca.

O rodapé da seção de cartas é claro: “As cartas poderão ser reduzidas.” Nenhum problema quanto a isso. Já tive outras cartas publicadas no JT e em outros veículos, e a maioria delas foi reduzida. Mas apenas no JT uma carta minha tinha tido conteúdo adicionado (não me lembro quando, mas sei que já ocorrera uma vez), embora tivesse sido pouca coisa. Desta vez, eu tinha escrito 259 caracteres (e errado o ano!), que foram transformados em 607, já descontado o aposto que indica a matéria a que eu me referia. Veja o meu email original:

Carta original ao Jornal da Tarde em 2012

Se compararmos os dois textos, no que foi publicado até a palavra “regredido” dá para se dizer que eles simplesmente elaboraram um pouco mais minhas frases. Não mexeram no sentido delas, de fato. Após isso, já não há nada que eu tenha sequer mencionado? Corrupção? Falta de compromisso? Eu não citei os motivos para uma possível regressão. Quem os citou foi o JT, tudo debaixo do meu nome. E de uma maneira simplória, pois há muito mais motivos que apenas a corrupção e a falta de compromisso por parte de nossa classe política. Não que eu discorde do que eles afirmaram em meu nome; apenas acho que é uma afirmação incompleta. E, claro, se vivêssemos em uma ditadura, o jornal teria me jogado debaixo de um ônibus em alta velocidade.

5 comentários

cris (19)

meu deus! Que absurdo! Pq vc ainda assina esse jornal?! Escreva uma carta sobre esse acréscimo, com 607 caracteres certinhos: será que publicam? E a última frase saiu “demais” junto mesmo? E que frase besta. Odeio esses trocadilhos idiotas, tipo colocar que vai precisar de outros 300 anos etc. Afe!

10 de janeiro de 2012, 22:52

Alexandre Giesbrecht

Não, tinha saído certo. É que eu copiei e colei do PDF, e todas as palavras vieram coladas. Esqueci de separar essa. E, droga!, logo a que formava uma palavra que de fato existe. hehehehehehe

10 de janeiro de 2012, 23:38

gilberto maluf (66)

Sobre a Educação no Brasil eu tenho o devido entendimento que foi uma das poucas coisas que não evoluiram na nação. Acho que a Saúde segue junto.
Quanto ao conteúdo adicionado realmente é estranho. Ainda bem que seguiu na mesma linha. Quem adicionou gostou do texto e mandou brasa.
abs

11 de janeiro de 2012, 16:47

Alexandre Giesbrecht

Gostou do texto? Talvez; sem dúvida não odiou. Agora, não houve até hoje uma única carta que eu tenha enviado ao JT que não tenha sido publicada: foram umas dez cartas entre 2003 e ontem; algumas demoraram uns dias, mas acabaram publicadas. Além disso, há nomes que aparecem na seção todas as semanas. Tudo isso sugere que o volume de cartas que eles recebem não é lá muito grande. De repente, precisaram adicionar texto à minha justamente para preencher o espaço. O que, claro, não justifica a atitude, que não deve ter ocorrido só com a minha.

Eles não têm conteúdo para preencher toda a seção de cartas? Pô, que aumentem a minúscula seção “Há XX Anos”, que é muito legal, mas extremamente subutilizada. Mas não mexam no texto dos outros, a não ser para reduzi-los! Ou, vá lá, elaborar mais determinadas frases, se for muito, mas muito necessário adicionar um pouquinho mais de texto. Aliás, podiam até ter-me respondido pedindo um texto maior. Eu escreveria com prazer.

11 de janeiro de 2012, 17:35

Douglas (14)

Surreal…
Mas se fosse na Folha, talvez mantivessem o texto e mudassem o autor.

26 de fevereiro de 2012, 18:50

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Quem?

Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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