Pseudopapel

Avianca cancela voo e deixa passageiros na mão

Tabela de embarques no Salgado Filho: voo da Avianca foi cancelado

Nas últimas vezes que fui para o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, no final da tarde, cheguei em cima da hora para o voo, e o que me salvou foi o check-in feito previamente pela internet, que garantiu que eu só pegaria filas antes de passar pela máquina de raios-x e no portão de embarque. Ontem, pois, eu me programei para sair um pouco mais cedo, evitando o grosso do trânsito no cruzamento da Rua Professor Cristiano Fischer com a Avenida Protásio Alves e ao longo da Avenida Carlos Gomes e Rua Dom Pedro II. Funcionou. Apesar de eu ter pegado algum trânsito, os quinze minutos de antecedência para sair fizeram eu chegar quase meia hora mais cedo ao aeroporto. Ainda deu tempo de parar na livraria antes de ir para o portão de embarque. Olhei no painel, e o portão era o de sempre: portão 2.

Meia hora antes do voo, notei que não havia ainda o aviso no portão e fui conferir a tabela. Ainda estava o portão 2 como previsto, mas… logo ao lado, o aviso “Cancelado”. Será que teria algo a ver com as cinzas do vulcão Puyehue? O céu de Porto Alegre estava esquisito quando cheguei, na manhã de ontem, algo impressionante, mesmo, como uma neblina fora de hora. Mas ao longo da tarde as cnzas foram sumindo e, quando saí rumo ao aeroporto, elas eram quase imperceptíveis. Ainda assim, faria algum sentido se fosse o motivo do cancelamento, a não ser por um detalhe: havia voos de outras companhias saindo normalmente.

Tive de sair da área de embarque para verificar o que estava acontecendo. No balcão de check-in da Avianca já havia algumas pessoas bastante descontentes, e faltava pouco para chegar ao bate-boca. Alheio a isso, fui buscar informações. Sim, meu voo tinha sido cancelado. Ok, quais eram as minhas opções? Uma, seria esperar até às 21h30, para ver se eu conseguiria embarcar em um voo da Gol. Detalhe: não só este voo ainda não estava confirmado, como eu era o 68.º na lista de espera. Não era um cenário muito animador. Outros voos da Avianca? Não havia, e, segundo a atendente, todos os voos de hoje já estavam lotados desde então, devido aos remanejamentos que a empresa já estava fazendo desde o início da tarde. A Avianca bancaria a minha hospedagem em Porto Alegre enquanto eu esperava? Apesar de ela ser obrigada a fazer isso (mesmo se o cancelamento se dever ao mau tempo), a posição da empresa era, basicamente, “Vire-se”. Ainda tentei ver se outras companhias tinham lugar, mas o único que me ofereceram sairia por uns 1,2 mil reais. Fora de cogitação.

A imagem da Avianca, ex-OceanAir, que eu tinha até ali não era ruim. Sim, ao menos na rota a que estou acostumado (São Paulo–Porto Alegre) a empresa voa apenas com Fokker 100s — embora com o nome alterado para MD28, provavelmente devido à má fama que o equipamento adquiriu nos anos 1990. Mas o serviço de bordo é acima da média atual no Brasil e serve até sanduíches ou salgadinhos, sempre quentes, algo que, mesmo longe das fartas refeições que se via nos céus brasileiros até os anos 1980, soa como um banquete frente aos amendoins da Gol e aos caríssimos sanduíches vendidos em voos da Webjet. Essa imagem foi jogada na privada pela empresa, que ainda deu a descarga.

O cancelamento do meu voo gerou os seguintes custos, apenas no meu caso: trinta reais, do táxi do aeroporto a um shopping center, onde eu compraria itens básicos para eu poder ficar até o dia seguinte em Porto Alegre, 46,97 reais, em cuecas (pacote com duas), meias (pacote com três) e camiseta (pacote com duas), 12,81 reais, em desodorante, escova e pasta de dentes, dezessete reais, do táxi do shopping center ao hotel, 145 reais, do hotel, e mais o táxi para o aeroporto nesta tarde, que deverá girar em torno de 25 a 30 reais. Isso porque acabei nem jantando. Total de uns 280 reais, mais o desgaste por não ter ido para casa ontem e complicado a vida da minha mulher, que hoje terá que se virar para levar e buscar nosso filho na escola. O dinheiro minha empresa reembolsará, pois ela cuida de seu funcionário. Só que não é ela que deveria fazê-lo, mas, sim, a Avianca, que não cuida de seu passageiro.

Agora pela manhã já vi na televisão que alguns voos foram cancelados, inclusive o primeiro da Avianca para Guarulhos. O segundo e o terceiro (para o qual tenho uma nova reserva, mesmo depois de a moça do check-in ter-me informado que todos os voos do dia já estavam lotados) permanecem no site da Infraero como “previstos”, assim como o voo das 23h37. As cinzas vulcânicas deixaram o espaço aéreo gaúcho à 1 hora de hoje. Desta vez, não sairei rumo ao aeroporto sem obter uma informação confiável a respeito do meu voo. E vale lembrar que amanhã e sexta-feira embarcar para São Paulo provavelmente será um inferno, já que possivelmente o Aeroporto de Cumbica estará fechado por causa de uma greve de funcionários.

Atualização (26/10, 18h59): Após a publicação do caso no meu Twitter, a Avianca tentou entrar em contato comigo por telefone quando eu estava no meio do voo de volta. Não conseguiu, obviamente. O Leandro, do SAC da empresa, ligou-me novamente no dia seguinte, e aí consegui falar com ele. Ele pediu para eu contar brevemente a história, mas logo descobri que ele já tinha lido o meu relato nesta página, o que é um ponto positivo. Ele também me falou que aos passageiros que esperaram até o horário do voo da Gol e não conseguiram ser acomodados nele foi oferecida hospedagem com traslado a um hotel na cidade, informação que conflita com o que me foi passado no balcão de check-in. Com o que eu tinha de informação (não haveria pagamento de alimentação, hospedagem ou traslados), não valeria a pena esperar até o horário do voo, já que eu não teria mais tempo hábil de ir a um shopping comprar os itens de que necessitava.

Concluído o relato, ele me passou o número de protocolo e avisou-me que entraria novamente em contato em até cinco dias — ou seja, hoje. De fato, ele me ligou no fim da tarde, para me comunicar que a empresa ofereceria um crédito de mil pontos em seu programa de milhagens. Mil pontos equivalem a um décimo do necessário para um passagem de ida dentro do Brasil. Nem de longe cobriria as despesas que minha empresa e eu tivemos devido a uma falha de comunicação da Avianca. Ele perguntou se eu estava satisfeito. Eu, claro, disse que não. Aproveitei para assegurar que minha intenção não é obter nenhum tipo de indenização, apenas o reembolso das despesas que tive, listadas acima e todas com seus devidos comprovantes. Mas também frisei que, caso não receba amigavelmente por meio do protocolo atual, não hesitarei em procurar meus direitos na Justiça, aí, sim, pleiteando uma indenização por danos morais. Pelo próprio Twitter ofereceram-me auxílio jurídico nesse sentido. Ele irá conversar com sua gerência e deve entrar em contato comigo até o fim desta semana. Aguardemos.

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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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