Pseudopapel

A nova cara da Placar

Placar: expediente em 1970

Em janeiro de 2006 Placar mudou seu projeto gráfico. Na ocasião, o diretor de Redação da revista, Sérgio Xavier Filho, falou sobre a mudança na carta ao leitor e citou o clichê em que se tornou falar disso. Foi também a ocasião em que o logotipo da revista, desenhado por Roger Black onze anos antes, foi alterado para levar a Bola de Prata, prêmiação anual distribuída pela revista durante o Campeonato Brasileiro. (Discordo dessa alteração, que descaracterizou o logo, mas este artigo não é para tratar disso.) Depois disso, uma nova e razoavelmente precoce mudança ocorreria em fevereiro de 2007. Na reforma de janeiro de 2006 a fonte principal fora mantida — versões mais pesadas da família Solex —, mas na nova reforma, ela foi sacrificada. Desta vez, nenhuma menção no editorial. Na época, elogiei o fato de o layout ficar mais limpo, mas critiquei a fonte principal utilizada, a família United, da House Industries. O curioso é que eu mudei de ideia em relação à família tipográfica, e não demorou muito. Foi só perceber o quão versátil ela é, e a Placar foi importante nisso, porque seu pessoal de Arte soube explorá-la com eficiência.

Ao contrário da reforma de fevereiro de 2007, a reforma seguinte demorou. Enquanto ela não vinha, fiquei imaginando se a família United seria mantida. A edição de julho de 2011 trouxe a resposta: sim, a United foi mantida. Na verdade, seu uso foi até expandido: agora é a única família de fontes usada na revista, uma aposta ousada. Com isso, a versão regular com serifas dela passou a ser usada inclusive no corpo dos textos. Minha primeira impressão disso não foi das melhores, assim como já havia ocorrido com o uso da fonte em títulos e outros elementos gráficos. O problema que vejo é que, além de a United ser bastante angulosa, a versão com serifas é do tipo slab serif. Nesse último quesito, o uso de slab serifs em corpo de textos está longe de ser uma novidade. O Jornal da Tarde já usava uma das famílias mais antigas desse estilo, a Clarendon, nos anos 1970, com sucesso, mas a Clarendon é “redondinha” e aproxima-se muito mais das fontes serifadas normalmente usadas em revistas. Placar seguiu o mesmo caminho trilhado pela Revista ESPN, que, por sua vez, importou a mesma fonte para corpo de texto que sua versão norte-americana. Vale lembrar que a United já era usada por Placar no corpo do texto de alguns boxes.

Corpo de texto à parte, a reforma visual manteve boa parte do que funcionava no design anterior. Os pontilhados que serviam como “fios” em seções como “Aquecimento” e “O Mundo É uma Bola” foram mantidos, mas agora em menor número, apenas horizontalmente e sem chegar às bordas das páginas. Ficou mais limpo, embora antes não estivesse ruim. Já que algumas mudanças eram necessárias, acho bom que mantenham uma unidade visual razoável com o layout anterior. Os início de algumas matérias, especialmente nos textos de uma página, como colunas, ganharam um corpo maior, tendência cada vez mais utilizada em revistas. Funciona quando o texto em corpo maior coincide com um parágrafo, mas, por exemplo, na (dispensável) coluna de Milton Neves isso não ocorre, o que dá um aspecto estranho à página.

Nas entrevistas, as perguntas são apresentadas em uma versão mais pesada da fonte e em parágrafos não-justificadas, fazendo um bom contraste com as respostas, justificadas e na mesma versão regular da fonte usada no corpo dos outros textos. Mas nas perguntas é vetada a hifenização, o que vira um problema quando isso gera linhas muito curtas, provocando um “buraco” na página. Isso ocorreu em uma das perguntas da entrevista com o Robinho, na página 94. De início, pensei que fosse o uso do recurso “Balance ragged lines”, do InDesign, mas a quinta pergunta da página 92 mostra que não é esse o caso. As fotos que ilustram as entrevistas também comprovam que o padrão agora é manter uma margem fixa nas páginas, funcionando como uma “borda branca”, mesmo recurso que tem sido brilhantemente usado na revista Época, da concorrente Editora Globo. Com o layout mais “limpo” em Placar, parece estar funcionando. Felizmente, as fotos que ocupam todo o espaço da página não foram abolidas totalmente, como na abertura das matérias.

No fim das contas, foi uma reforma gráfica positiva. Por ter sido razoavelmente simples, mantendo boa parte do layout anterior, é possível que a próxima reforma não esteja tão longe. Eu espero que esteja, pois gostei do resultado atual.

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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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