Pseudopapel

Um reclame do Jornal da Tarde

Anúncio de casa de massagens no Jornal da Tarde em 1980

Orestes Quércia, então governador de São Paulo, respondeu em dezembro de 1990 a críticas do Jornal da Tarde, dizendo que a publicação não tinha “autoridade moral” para fazê-lo, porque “vive subvencionado pela prostituição”. Ele estava falando dos anúncios de garotas de programa que o jornal publicava, e ainda publica, na seção de classificados. Como resposta, foi elaborado um editorial com novas críticas ao governador e aos “prostitutos da política”. Tudo ficou por isso mesmo. Quércia deixaria o governo três meses depois com o sucessor que elegeu, e o JT seguiria publicando seus classificados de prostituição, assim como a gigantesca maioria dos jornais brasileiros.

Esse tipo de classificado deve dar retorno às anunciantes, já que há décadas é usado e não morreu mesmo nos tempos atuais, em que os classificados em geral de jornais têm perdido cada vez mais espaço para sites que oferecem o mesmo serviço, mas com uma busca infinitamente mais fácil. No caso específico das garotas de programas, não é preciso ser um gênio da computação para achar sites que oferecem apenas esses serviços, com fotos e tudo o mais. Os classificados atuais desse assunto? Ainda com bizarrices ocasionais, com alguns textos que estão mais para a comédia do que para vender o, digamos, “produto”. Mas sem fotos, até onde eu sei.

E tais anúncios estão sempre na seção de classificados e sempre em forma de classificados. Nunca imaginei que já tivesse sido diferente, daí a surpresa ao topar com o anúncio acima, publicado no pé de uma página da seção de Esportes do JT em 8 de março de 1980. Anúncio mais explícito, só se a mulher que lá aparece (que provavelmente não era uma das “atendentes” das casas, mas alguma modelo, talvez de catálogo de imagens) estivesse vestindo menos roupas.

O blog Reclames do Estadão publica diariamente diversos anúncios antigos que saíram em O Estado de S. Paulo ao longo de sua história. Será que um dia ainda vai publicar esse aí de cima?

Atualização (14/12/2010, 23h19): Não só publicou, como publicou apenas algumas horas depois. Confira!

Atualização (3/5/2011, 6h14): Outra versão de anúncio da mesma rede também pode ser vista em edições de 1980 da Folha de S. Paulo, inclusive uma ao lado do noticiário político, na página 4 da edição do dia 11 de dezembro. Definitivamente, outros tempos.

3 comentários

gilberto maluf (66)

Como o Quércia foi hipócrita ao se defender atacando os anúncios de casa de massagem.
Antes de voltar ao assunto Quércia, em uma daquelas noites da vida bati na casa da Praça Roosevelt para conferir o anúncio. A equipe era apenas razoável. Mas digo que em fins dos anos 70 fui à uma casa de massagem na Alamenda Lorena, era o início da era dessas casas. Padrão de 1ª qualidade em todos os sentidos e principalmente no preço.
Mas tudo isso movido pela curiosidade e agucidade dos jovens. Era difícil mas conseguia me segurar.
Voltando ao Quércia que tentava atacar o JT no caso dos anúncios, fico indignado com a postura dissimulada dele. Chego até a apostar que muitos dos políticos tidos como corruptos foram trombadinhas perto dele.
Mas cá entre nós, a foto do anúncio era convidativa mesmo.

14 de dezembro de 2010, 16:56

Douglas Nascimento (14)

Publicou até que rápido por lá! rs

14 de dezembro de 2010, 19:33

Alexandre Giesbrecht

É, Douglas, eu nem esperava que publicassem. E deram até crédito! E ainda pretendo atualizar este post (ou fazer um novo) com fotos dos locais onde ficavam as casas. Duvido que ainda funcionem. Na esquina da Augusta com a Praça Roosevelt, pelo menos, tenho certeza de que não há uma clínica de massagem.

Gilberto, eu acrescentaria ainda, sem medo de errar, que muitos políticos que combatem ou dizem combater a prostituição são usuários assíduos desse tipo de serviço.

14 de dezembro de 2010, 23:11

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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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