Pseudopapel

As quatro estações Retiro

Estación Retiro Mitre

Quando chegamos à Estação Retiro, vindos da Estação Palermo pela Línea San Martín, não era a primeira vez que chegávamos ali. Mas era — e ainda não sabíamos disso — a primeira vez que chegávamos àquela Estación Retiro. Como tínhamos passado por ali em março de 2006, pareceu-nos muito diferente a estação, e não era nada que pudesse ser explicado por uma eventual decadência do local ou coisa parecida. Bastou sair da estação para perceber que, na verdade, existia mais de uma Estación Retiro. Simplesmente desta vez chegamos a uma diferente.

A foto abaixo mostra o início da plataforma na Retiro San Martín, final da Línea San Martín. É um prédio bem simples se comparado aos outros e muito menor. Segundo texto sem fontes na Wikipédia em espanhol, essa diferença deve-se ao fato de o edifício da San Martín ser provisório, embora a estação definitiva nunca tenha sido construída. As três estações Retiro que servem aos trens metropolitanos ficam uma ao lado da outra, mas, apesar de terem o mesmo nome, não têm sequer uma ligação entre si. No caso da San Martín, ela fica separada das demais por uma rua, a Calle Padre Carlos Mujica. Na segunda foto abaixo, o topo da Retiro Belgrano é visto a partir das plataformas da Retiro San Martín.

Plataformas da Estación Retiro San Martín
Topo da Estação Retiro Belgrano

A estação seguinte é a Retiro Belgrano, bem maior e mais bonita, mas ainda modesta diante da Retiro Mitre, a maior e mais bonita de todas. A Retiro Belgrano foi inaugurada em 1914, um ano antes de sua homônima maior.

Fachada da Estação Retiro Belgrano
Bilheterias da Estação Retiro Belgrano
Plataformas da Estação Retiro Belgrano

Quando um não-argentino fala da Estação Retiro, pode ter certeza de que ele está falando, na verdade, da Retiro Mitre, a mais imponente das três estações homônimas que se vê da rua. Projetada em 1908 por quatro arquitetos e um engenheiro ingleses, sua construção começou em junho de 1909. A estrutura de aço foi feita pela Francis P. Morton & Co. em Liverpool, na Inglaterra, e depois montada no local, somando um peso de oito mil toneladas. A estação ficou pronta em 1914, na mesma época que sua vizinha Retiro Belgrano, mas só seria inaugurada em 2 de agosto de 1915, pelo presidente Victorino de la Plaza. Majestosa, à época era uma das maiores estações ferroviárias do mundo e um dos principais exemplos de engenharia estrutural na América do Sul. Em 1997 Retiro Mitre foi considerada um monumento histórico nacional e três anos depois passou por uma rigorosa reforma.

Na primeira foto abaixo, vê-se a entrada. Quem passa por essas portas tem como primeira vista a imponente bilheteria, mostrada na foto seguinte. Atrás dela, o amplo hall, onde hoje encontram-se diversas lojas em quiosques que destoam bastante da arquitetura original. Algus detalhes deles estão nas três fotos seguintes. Em uma delas é possível ver a entrada para o metrô. A passagem para a gare tem as onipresentes bandeiras argentinas e batentes que provavelmente são originais.

Entrada da Estación Retiro Mitre
Bilheterias da Estación Retiro Mitre
Hall da Estación Retiro Mitre
Estación Retiro Mitre: hall e entrada do metrô
Teto da Estación Retiro Mitre
Bandeiras na Estación Retiro Mitre
Gare da Estación Retiro Mitre

A próxima parada foi a quarta Estação Retiro, a única atualmente que serve o metrô de Buenos Aires, em uma das pontas da Linha C — na outra ponta está a Estação Constituición, outra estação central de trens metropolitanos. Atravessamos a Avenida Dr. José María Ramos Mejía e pegamos a entrada do outro lado, que pode ser vista na primeira foto abaixo. As pichações não são exclusividade dessa entrada ou mesmo dessa estação no metrô de Buenos Aires, mas aqui, talvez devido ao fato de ela não ser tão usada, havia ainda um cheiro forte e desagradável, que destoou bastante do que vimos no resto da capital argentina. Por ser uma estação terminal, lá é possível ver os fins de linha (segunda foto abaixo), algo que não ocorre, por exemplo, no metrô de São Paulo.

Entrada da Estação Retiro do metrô
Plataforma da Estação Retiro do metrô

Atualmente são as quatro estações citadas acima que “compõem” a Estação Retiro, mas a tendência é que no futuro três outras se juntem a elas, as três do metrô. Explico: em Buenos Aires, estações com baldeação não são como a maioria das que temos no Metrô de São Paulo, que são uma única estação com mais de uma plataforma, normalmente apenas em andares diferentes (Sé, Paraíso e Ana Rosa, embora nessa última as plataformas estejam no mesmo andar, mas separadas por uma escada subindo e outra descendo); o modelo de Buenos Aires é o que foi usado na ligação entre as linhas 2 e 4, em que há duas estações com nomes diferentes (no caso, respectivamente Consolação e Paulista) separadas por um corredor. Isso ocorre em todas as integrações portenhas, a não ser pela integração entre as linhas C e E, onde as duas estações têm o mesmo nome, Independencia, mas também não ficam no mesmo bloco, tendo a segunda sido construída 32 anos após a primeira.

Seguindo esse modelo, as novas estações Retiro do metrô, que poderão ou não ter esse nome, atenderão as linhas E (em uma extensão, já em construção), H (em outra extensão, ainda em projeto) e G (linha ainda em projeto, com previsão de início da construção para 2011).

6 comentários

gilberto maluf (66)

A maior das estações não teria semelhança com a nossa estação da Luz?
abs

22 de novembro de 2010, 18:47

Alexandre Giesbrecht

Na verdade, não, embora as grandes estações construídas nessa época pela América do Sul tivessem quase todas inspiração em estações europeias. Mas a história de que a Luz seria réplica da estação de Sidney ou de alguma outra é apenas isso: história.

22 de novembro de 2010, 20:59

Zé Maria (67)

É uma estação bonita e até imponente, mas perde para a antiga Sorocabana, hoje a importante Sala São Paulo. Os trens lá quebram um galho. rrss

25 de novembro de 2010, 23:00

Alexandre Giesbrecht

Concordo. A Júlio Prestes é impressionante, mesmo. Pena que, como estação de trem, hoje está relegada ao segundo plano, sem integração com nada. Aliás, embora tenham pelo menos três décadas de diferença, a Retiro tem mais a ver com a Júlio Prestes do que com a Luz, não?

25 de novembro de 2010, 23:09

Zé Maria (67)

Vi duas pichações registradas por sua preciosa objetiva. Quando estive lá há poucos dias notei, como faço sempre em outros países, uma quantidade bem menor do que a que vemos por aqui, onde imperam os porcalhões e a polícia com a justiça nada ou pouco fazem. Todos sabem onde eles se reunem – na Ladeira da Memória – onde fazem suas sujeiras e nunca são presos. Por que não pegar duas dúzias deles e simplesmente condená-los não a ficarem atrás das grades, mas aproveitar sábados, domingos e feriados para limpar a sujeira que fazem ? Não me parece tão difícil. E, por que não aproveitar os porcalhões dos postes e pontos de ônibus que pregam ali publicidade de compra de ouro, planos de saúde, tarô etc. ? É a coisa mais fácil, porque eles colocam telefone e às vezes até endereço. abração

29 de novembro de 2010, 13:18

Alexandre Giesbrecht

Deveria ser tão simples, não? E pior que não vejo motivo para não ser tão simples…

29 de novembro de 2010, 17:28

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Quem?

Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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