A estação de metrô mais próxima do hotel em que nos hospedamos em Buenos Aires, o Jam Suites Boutique Hotel, era a Scalabrini Ortiz, na Linha D. Como faríamos um périplo pelo metrô de Buenos Aires, seria o ponto de partida ideal, mas não era o que tínhamos em mente. A ideia era antes tomar o trem da Línea San Martín até Retiro, e dali pegar o metrô. Sem dúvida, uma grande volta, mas também um bom passeio para quem está disposto. Saindo do hotel, são dezessete quarteirões de distância, contra apenas dez até a estação de metrô. Isso significa, obviamente, conhecer mais do bairro de Palermo SoHo.
Subimos pela Gorriti até a Godoy Cruz e seguimos por esta até a Avenida Santa Fe, onde se localiza a estação, elevada, na esquina com a Avenida Juan Bautista Justo. A Godoy Cruz é uma rua bastante arborizada que segue paralela à linha do trem. A foto acima mostra o trem chegando à passagem de nível na Gorriti, meio quarteirão após a Godoy Cruz, quando ainda não tínhamos chegado sequer à metade de nossa caminhada de 25 minutos.
A Estación Palermo foi construída em 1909, junto com o viaduto contíguo, chamado Puente Pacífico (foto abaixo), que passa sobre a Avenida Santa Fe. A Línea San Martín, operada pela UGOFE (Unidad de Gestión Operativa Ferroviaria de Emergencia), originalmente foi concebida em 1882, como Compañía Ferrocarril de Buenos Aires al Pacífico (BAP), empresa de capital britânico, daí os trilhos com mão inglesa. A ferrovia foi estatizada em 1947. A linha metropolitana atual serve de Retiro a Pilar, e há ainda a linha interurbana, que liga Retiro ao interior, incluindo Mendoza e San Juan.
Em Palermo só é possível pegar o trem metropolitano. As tarifas são baratíssimas, variando de 75 centavos de peso (para quem anda entre uma e cinco estações, dependendo do trecho) a dois pesos e vinte centavos (para quem vai de uma ponta à outra da linha). Para se ter uma ideia, os valores em reais corresponde a 33 e 96 centavos. Só para efeito de comparação, a tarifa da CPTM aqui em São Paulo é de R$ 2,70, ou mais de seis pesos argentinos. Compramos os bilhetes no andar intermediário e subimos à plataforma, que fica colada ao viaduto. O bilhete não é magnético: ao chegar à plataforma um funcionário destaca-o, e você fica com o canhoto, que deve apresentar no destino.
Na plataforma onde embarcamos, que tinha como destino Retiro, não havia uma única loja, ao contrário da plataforma oposta, que concentra a esmagadora maioria do movimento de embarque. Entre os anúncios da estação, destacavam-se os que solicitavam aos passageiros que não viajassem nas portas dos vagões, que ficam abertas durante o percurso. Segundo trecho sem fontes da Wikipédia em espanhol, essa linha chegou a ser conhecida como “Trem da Morte” depois da crise que afetou a Argentina em 2001. Alguns dos anúncios que vimos tinham uma temática bastante mórbida, algo como “o garotinho ainda está esperando seu pai, que viajava na porta”. Uma pena que eu não tenha fotografado nenhum deles.
Não sei qual era a frequência de trens naquela manhã de sábado, mas a composição que nos levaria a Retiro não demoraria a chegar. Já tínhamos andado nos trens metropolitanos de Buenos Aires em 2006, mas em uma linha da Ferrocarril General Bartolomé Mitre (FCGBM) — o sistema é uma verdadeira confusão de nomes de linhas e ferrovias —, entre as estações Bartolomé Mitre e Retiro. O trem que pegamos desta vez era mais moderno e confortável, e havia seguranças em todos os vagões.
Ruas, avenidas e outras paisagens urbanas são exclusividade apenas das primeiras centenas de metros do percurso rumo a Retiro. Na foto abaixo, vê-se a Avenida Santa Fe (na direção oeste, ou seja, afastando-se do centro) a partir da Puente Pacífico. A linha, que nesse trecho segue de sodoeste a nordeste, passa por uma área bem arborizada enquanto corre paralela à Avenida Intendente Bullrich, que é a continuação da Juan Bautista Justo. Logo em seguida, encontra-se com as linhas da FCGBM que vêm do oeste e do noroeste e começa a correr lado a lado, com as três fazendo a curva para a direita e tomando a direção leste. De início, as linhas da FCGBM correm à esquerda de quem está na San Martín rumo ao Retiro, mas mais adiante passam por baixo da San martín e começam a correr à direita.
Um trecho curioso é o que tem um clube com várias quadras de tênis, que ficam entre a linha da San Martín e as linhas da FCGBM, como se pode ver abaixo, em foto que não consegui evitar o reflexo no vidro da janela.
A partir daí, a paisagem vira industrial. Lembro-me que, antes de chegar a esse pedaço, quando peguei a linha da FCBGM em 2006, havia muitas áreas residenciais, algumas delas bastante simpáticas, mas no fim da linha era quase um deserto industrial, com um espaço aberto bem grande entre os trilhos onde estávamos e os muros que separavam a linha do que quer que havia ali. Tanto é que, quando o José Maria de Aquino mencionou a favela à esquerda de quem chega, pouco antes de Retiro, eu não me lembrava de tê-la visto. Desta vez vi. Após o trecho industrial, o trem corre bem próximo à favela e depois vai-se afastando.
Em 2006 cheguei à gare atrás do prédio principal da Estación Retiro, conhecido como Retiro Mitre. Na época, sequer percebi que a estação estendia-se por mais dois prédios, Retiro Belgrano e Retiro San Martín, um ao lado do outro. Desta vez, cheguei à Retiro San Martín, a mais simples das três e a única que não tem uma gare. Na hora até estranhei, porque a estação não se parecia em nada com o que eu me lembrava. Só ao sair dela é que comecei a perceber que, na verdade, existiam três estações e a partir daquele momento eu ja tinha chegado por duas delas.
Fim da linha para nós nos trens metropolitanos de Buenos Aires. Era hora de começar a andar de metrô…
oi, pretendo ir a Buenos Aires no segundo semestre de 2012, ida de aviao o retorno estou pretendendo voltar de trem ate a cidade de passo de los libres fiquei sabendo que o trem da tea foi suprimido , prgunto vcs tem algum site de informações desses serviços.
grato.
Olá, Carlo. Não sei de informações a respeito. Acompanhei o noticiário argentino da tragédia da última quarta-feira 22, e não me lembro de ter lido nada sobre interrupção dos serviços da TBA, que opera a linha do acidente e também o ramal Federico Lacroze–Posadas, que serve a Paso de los Libres (são linhas totalmente distintas). Mesmo a linha Sarmiento, a do acidente, segue operando. A Wikipédia em espanhol nada fala em interrupção de serviços no ramal Federico Lacroze–Posadas. Na linha que serve Paso de los Libres, a informação é que o serviço está interrompido há um bom tempo a partir de Apósteles, mas essa estação fica muito além de Paso de los Libres. Espero que essas informações possam ajudá-lo.
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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).