Pseudopapel

Cenas de uma plataforma abarrotada

Plataforma lotada na Estação Paraíso (1)

Quando postei a foto acima no meu Twitter, direto do celular, eu ainda não fazia ideia do que me esperava naquele fim de tarde de terça-feira. Não era um dia normal no metrô, e isso já estava claro desde aquela manhã, quando a Linha 3 ficou parada por algumas horas, supostamente por causa de uma blusa presa numa porta. Curiosamente, pela manhã não percebi nenhum efeito do problema, apesar de ter usado o sistema no mesmo horário. Fiz um trajeto diferente, para poder fotografar o último dia da antiga Estação Tamanduateí da CPTM em operação. Como só passei pelas linhas 7, 10 e 2, só fui saber o que estava acontecendo quando passei pela catraca, já na minha estação de destino, e ouvi um aviso pelos alto-falantes.

À tarde o problema já estava resolvido, mas não seria surpresa para ninguém se houvesse algum reflexo da conturbada manhã. Ao menos para quem estava na Estação Paraíso por volta das 18 horas, o que houve não teve nada de reflexo; foi muito pior. Dias conturbados nos trens do metrô ou da CPTM não são nenhuma novidade para mim. A maior demora que eu já tinha experimentado fora entrar no sexto trem em alguma manhã na Sé. Esse recorde estava para ser batido. Aliás, estava para ser esmigalhado.

A plataforma no sentido Tucuruvi da Estação Paraíso nem parecia tão lotada assim quando cheguei. Havia os direcionadores, que funcionam como “currais” para direcionar os passageiros às portas do trem, e eu já os tinha pegado mais cheios. Mas cada trem que passava já chegava bastante cheio, e a quase-fila andava muito devagar. Até o oitavo trem, com meu recorde pessoal já batido, a situação nem estava tão ruim. O problema é que, no nono trem ninguém conseguiu entrar na porta onde eu estava, e a partir de então quase ninguém conseguiu mais embarcar ali. Pelos gritos e protestos que eu ouvia, de perto e de longe, a situação não era muito diferente nas outras portas.

Quando, por fim, o décimo-terceiro trem da minha espera surgiu do outro lado da estação, a comemoração seguia junto, de curral em curral, tal qual um miste de comemoração de gol e uma “ola” em um estádio. Sim, aquele trem estava vindo vazio. Demoraram (no mínimo) doze trens para fazer o que deveria ter sido feito havia muito tempo. Se não fosse a composição chegar vazia, uma espera de mais uma dezena de trens estaria longe de ser inimaginável, porque ainda havia algumas “camadas de pessoas” entre onde eu estava e a porta do trem. Se eu estava havia 45 minutos ali, quem estava à minha frente estava esperando fazia ainda mais tempo. O embarque, claro, transformou definitivamente em gado quem estava nos “currais”: o empurra-empurra foi violento.

Dentro do trem, ainda pude ouvir os alto-falantes da estação soltar uma última ironia: “Não segurem as portas do trem; você pode causar atrasos.” Sim, nós, passageiros, poderíamos causar atrasos. Não naquela terça-feira. Definitivamente, não naquela terça-feira.

6 comentários

gilberto maluf (66)

Pois é, Alexandre, o nivel de conforto do Metrô de São Paulo nesse fatídico dia foi ao rês-do-chão, como costumava dizer um amigo meu. Mas as vezes penso que não tem como administrar eventos como esse. Antigamente o trem tinha janelas basculantes e em caso de parada não era tão sufocante.
Evidente que os passageiros transportados hoje são bem maiores e talvez faltou segurar a população antes da linha de bloqueio.
Mas estou fora há tempos e só estou imaginando a situação.
abs

25 de setembro de 2010, 7:38

Ralph Giesbrecht (42)

Casos como estes não têm solução. Pelo menos, não imediata. E não são um fenômeno brasileiro. Também é um fenômeno parisiense, por exemplo. O máximo que o metrô e a CPTM podem fazer por ora é tentar dar o maior conforto possível, seja lá o que isto queira dizer. E o problema tende a piorar, pois o trânsito “lá fora” está cada vez pior e as pessoas aos poucos vão buscar a alternativa dos trens, pois somente eles andam – ônibus entra nos congetionamentos também (com exceção dos corredores). Os usuários também precisam aprender a conviver com isso, pois depredações somente vão piorar a situação. Podiam colaborar, por exemplo, aumentando seu próprio grau de educação.

25 de setembro de 2010, 10:13

Alexandre Giesbrecht

Talvez tenha chegado um ponto em que seguraram os passageiros nos bloqueios. Não seria a primeira vez na Paraíso. Já aconteceu uma vez de eu ficar de fora, e vi como funciona: eles não impedem totalmente o acesso, mas liberam apenas uma ou duas catracas, o que diminui bastante o fluxo de entrada. Nesta última terça a plataforma ficou cheia, mas não parecia estar totalmente entupida até as escadas rolantes, o que sugere que algum tipo de represamento foi feito — se bem que a área entre plataforma e escadas rolantes naquele andar é uma das maiores, senão a maior, em toda a rede do metrô.

O metrô de Tóquio dizem que é assim, com funcionários pagos para empurrar o pessoal para dentro dos trens (na CPTM eu mesmo tenho de fazer isso para embarcar de manhã). Imagino que lá ou em outras cidades não seja tão raro alguém esperar cinco ou seis trens para embarcar. Mas treze trens é um absurdo. E é um absurdo ainda maior esperarem doze trens para mandar um vazio. Na Sé, durante meu trajeto pela manhã, é frequente eu ouvir os alto-falantes anunciando que “este trem com destino a Tucuruvi prestará serviço apenas até a Estação São Bento”, o que sugere que em alguns minutos um trem vazio surgirá na plataforma oposta. Embora por duas vezes eu tenha esperado pelo sexto trem e eles saiam todos lotados, o sistema em geral funciona. Realmente não por que demoraram tanto para mandar um trem vazio. A partir do Paraíso, no sentido Jabaquara, a demanda é muito menor que no outro sentido. Um único trem vazio ali uns vinte minutos antes teria amenizado bastante a situação.

25 de setembro de 2010, 11:14

Markkkk (2)

E depois recriminam quem utiliza seu veículo particular…
Transporte público, pra mim, só para lazer…

8 de março de 2012, 8:25

Alexandre Giesbrecht

Há pessoas que não têm opção. Eu, que tenho, ainda opto pelo transporte público, a não ser para levar e buscar meu filho pequeno na escola. Mas que é revoltante ver certas coisas, isso é. De qualquer maneira, percebo a CPTM melhorando. Aos poucos, claro, mas é perceptível. Isso já significa alguma coisa…

8 de março de 2012, 22:54

Ralph Giesbrecht (42)

Quem fala mal da CPTM e do mtrô é porque não conhece o sistema mais a fundo e não conhece a realidade do transporte em geral, incluindo outros países. Como eu conheço alguma coisa e leio bastante sobre isso, tenho uma ideia melhor. Realmente plataformas abarrotadas são um saco e trens que quebram também são. Mas não é muito melhor no resto do mundo. Há um limite, e eles sempre chegam, pois cda vez mais gente usa o transporte porque carros não dão mais – eles não andam por causa de enormes congestionamentos. Com mais gente e mais movimento de trens, mesmo que sendo um aumento pequeno pois aumentar mais só aumentando as linhas e isso não é uma obra rápida, aumentam também os riscos de acidentes, ainda mais com a infraestrutura problemática que tem o Brasil – inclusive na área de fornecimento de energia elétrica que movem esses trens. Então é parar de reclamar dizendo que a CPTM é uma porcaria – não é – e tentar se fixar no lado bom da coisa, que é o fato de v. poder se mover sem congestionamento de linha. O trem quebra? Quebra, mas não é todo dia nem em todo lugar.

9 de março de 2012, 8:11

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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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