Pseudopapel

Da Barra Funda à Júlio Prestes

Trem da Linha 8 da CPTM faz a curva

Em junho publiquei aqui fotos tiradas no trajeto entre as estações Barra Funda e Luz pela Linha 7-Rubi da CPTM, tanto tiradas para o norte como para o sul. A Linha 8, apesar de correr paralela e muito próxima, oferece paisagens muito diferentes, ou no mínimo outros ângulos em relação à Linha 7. É um trajeto, além disso, que já esteve — talvez ainda esteja — ameaçado de acabar, o que seria lamentável.

Não é difícil imaginar por que se pensa nisso: depois que o trem sai, ainda razoavelmente lotado, da estação Lapa, a gigantesca maioria desses que sobraram desce na Barra Funda. Enquanto na Linha 7 algo próximo da metade segue até a Luz, na Linha 8 são pouquíssimos que seguem até a Júlio Prestes, estação que não tem interligação com nenhuma outra (embora fique a apenas dois quarteirões da Luz, distância percorrida a pé em menos de cinco minutos) e, ainda por cima, fica em um dos lugares mais degradados da cidade. Sim, mais degradado até que os arredores imediatos da Luz.

Ao deixar a estação Barra Funda, não demora muito para que se tenha à esquerda o prédio do TRT (Tribuna Regional do Trabalho), monumento à gastança desenfreada de dinheiro público, que tornou-se conhecido por causa do escândalo do Juiz Lalau, em 1999. Até é possível avistá-lo da Linha 7, que aparece na foto, mas sua visão é encoberta pelas edificações mais próximas.

Depois do Viaduto Pacaembu, avista-se, em estado de total abandono, a antiga estação Barra Funda da Estrada de Ferro Santos–Jundiaí. Apesar de ela ficar à margem da Linha 7 (que corre no leito da antiga EFSJ), é difícil vê-la daqueles trilhos, justamente por ela estar tão perto. Da Linha 8, pode-se contemplar melhor o descaso com que ela foi tratada. Mesmo após a construção da atual estação Palmeiras–Barra Funda, algumas centenas de metros a oeste, há mais de vinte anos, a antiga estação ainda chegou a ser usada para as saídas do Trem de Prata, que circulou entre São Paulo e o Rio de Janeiro nos anos 1990. Hoje já foi parcialmente demolida, e chega a ser difícil perceber que aquela estrutura já foi usada como estação de trem.

A foto abaixo, do trem no sentido oposto, foi proposital, mas só entrou aqui porque a experiência deu certo. Já na foto que abre este texto, o trem faz a curva logo depois de a Linha 8 se separar da Linha 7. Depois disso, elas seguem correndo paralelas, mas nunca tão juntas quanto no trecho entre a estação Lapa da Linha 7 e este ponto.

Na postagem de junho eu me perguntei o que seriam as construções abandonadas que apareciam à esquerda na quarta foto. Não resolvi o mistério, mas ao menos pude fotografar o outro lado, para ter uma ideia melhor. Parecem galpões abandonados, bem mais recentes que o prédio pouco mais à frente, que fica imediatamente antes do Viaduto Orlando Murgel (que foi dirigente da Estrada de Ferro Sorocabana entre 29 de fevereiro de 1940 e 14 de julho de 1941). Desse prédio, as fotos que bati a partir da Linha 7 ficaram muito melhores, pois os trens da Linha 7 já estão em velocidade reduzida naquele trecho e a edificação está bem mais próxima da Linha 8. Essa diferença de velocidades em geral prejudicou muitas fotos batidas nesta última sessão, especialmente do que estava muito perto.

Outro mistério daquela postagem de junho, também não solucionado, é a antiga função deste prédio, hoje “fagocitado” pela favela que fica entre as duas linhas na altura do Viaduto Orlando Murgel. O que percebi ao vê-lo a partir da Linha 8 é que existe uma passagem de nível logo abaixo do viaduto, que hoje é usada como acesso à favela. Pelo Google Maps não é possível ver essa passagem de nível devido ao local onde ela se encontra. Como eu estava na janela oposta, não pude ver onde o acesso se liga às ruas, mas imagino que seja na Rua Doutor Elias Chaves.

Na altura da Rua Silva Pinto a Linha 7 volta a quase encostar na Linha 8, mas só por poucos metros. A Estação Júlio Prestes já está pouco à frente para quem segue nos trens da antiga Sorocabana, como eu fazia nesse dia. Na segunda foto, um trem da Linha 7 vem da Luz e encobra parcialmente um pátio de manutenção da CPTM.

A chegada à Estação Júlio prestes, claro, faz parte do trecho, mas tenho fotos em bom número para fazer uma postagem separada. Fica para a próxima, então. Já está no ar!

3 comentários

Raquel Alvarenga (1)

Bom dia!
Em primeiro lugar, ótimas fotos, belíssima postagem, adorei as informações!
Das certezas que tenho quanto aos prédios das fotos, onde a favela ‘fagocita’ (ri com o termo rs..) é um antigo moinho, mas não sei dizer se fez parte das fábricas Matarazzo. Por isso a favela leva o nome de ‘favela do moinho’. Minha faculdade é depois dessa região (Uniban RG) e quando passo pelo viaduto dá pra ter uma visão ampla. Os armazéns também podem ser parte do que foram as fábricas Matarazzo. Não me recordo se no Expresso Turístico da CPTM Luz-Jundiaí o guia chegou a mencionar sobre. Note que antigamente havia uma locomotiva abandonada entre as ruínas, que são características de uma plataforma de desembarque (talvez de funcionários???), mas esta foi recolhida, se não me engano pela ABPF.

4 de agosto de 2010, 9:20

Anônimo (4)

[...] This post was mentioned on Twitter by Raquel Alvarenga, Usuário da CPTM. Usuário da CPTM said: Da Barra Funda a Júlio Prestes – Pseudopapel do @agiesbrecht: http://mauaen.se/aXV7gq [...]

4 de agosto de 2010, 9:40

Alexandre Giesbrecht

Oi, Raquel. Obrigado pelas informações. Realmente, aquelas ruínas têm aparência de um dia terem sido algum tipo de plataforma. Sei que alguns anos atrás a CPTM publicou mapas nas estações (alguns deles ainda estão lá, como na Estação Lapa da Linha 7) citando uma tal Estação Bom Retiro como “em projeto”. Nunca mais falou-se disso. Olhando pelo Google Maps, o local mais apropriado seria justamente no local dessas ruínas, embora o mesmo Google Maps mostre que delas sobraram apenas as paredes. O curioso é que quase todos os dias eu passo por cima e por baixo do Viaduto Orlando Murgel, mas já à noite, então não consigo ver grandes coisas. É bom também saber que o prédio no meio da favela originalmente era um moinho, porque mesmo para descrever a paisagem que beira as linhas 7 e 8 nesse trecho começam a faltar substantivos para as edificações. Esse prédio, portanto, posso passar a chamar de moinho agora!

4 de agosto de 2010, 11:16

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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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