No que dependesse da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a foto acima não existiria. É proibido fotografar estações de trem, um resquício da época da Ditadura, quando era “questão de segurança nacional”. A proibição foi relaxada, provavelmente na última década, quando máquinas digitais se popularizaram, e mais e mais pessoas passaram a ter a ideia de fotografar trens e estações sem se preocupar com os custos de compra e revelação de filmes. Entretanto, pelo visto você só pode fotografar se for com uma máquina simples. Se for com uma um pouquinho mais complexa, você começa a atrair os olhares dos seguranças.
Minha câmera, embora seja nova e potente para uma point-and-shoot, está longe de ser profissional. É uma Kodak EasyShare Z981 (o próprio nome “EasyShare” já indica que não é uma câmera para profissionais), classificada pela Amazon na categoria “Point & Shoot Digital Cameras”. Mas a aparência dela é mais próxima à de uma câmera profissional do que de uma daquelas que garotas adolescentes usam para tirar fotos em frente a um espelho. No treinamento de um segurança da CPTM, é claro que não existe um tópico explicando a diferença entre uma câmera profissional e uma amadora.
A primeira vez que tive problemas foi em 30 de novembro, quando um segurança me abordou na Estação Tamanduateí, próximo às catracas de transferência para o Metrô, informando que eu não poderia bater fotos com uma câmera profissional. Expliquei a situação, o que não adiantou nada. Como eu já tinha tirado as fotos que me interessavam — a saber, da demolição da antiga Estação Tamanduateí —, simplesmente fui embora.
Alguns dias depois, entretanto, decidi voltar lá para ver como anda a evolução da demolição, mas antes parei na Estação Moóca. Saí do trem e fui até o início da plataforma no sentido Rio Grande da Serra, de onde tirei a foto que ilustra este texto, entre outras. Quando cheguei próximo às escadas para a passarela, um segurança de novo apontou para a minha câmera, informando que não era permitido fotografar com câmeras profissionais sem autorização da chefia. Mais uma vez, expliquei que minha câmera não era profissional, e mais uma vez minha explicação de nada adiantou.
Cabe ressaltar: apesar de eu discordar frontalmente da proibição da CPTM, nenhum dos quatro funcionários que interagiram comigo nos dois episódios foi descortês. Muito pelo contrário. Todos foram educados e em nenhum momento proferiram ameaças ou algo parecido. O único senão é o desconhecimento da diferença de uma câmera point-and-shoot e uma profissional, o que, convenhamos, não dá para culpá-los. No fim das contas, fui liberado pela chefia da estação para continuar fotografando. Na Estação Moóca — na Tamanduateí, eu teria de procurar a chefia de estação novamente.
Ou o departamento de Marketing da CPTM. Consultei o departamento, e a primeira informação é que é proibido fotografar com qualquer câmera, mesmo amadora, sendo apenas celulares permitidos, ainda assim por pura impossibilidade de controle. Anacrônico, não? Comprovei o que eu já imaginava: o procedimento de autorização para fotografar é extremamente burocrático. Tudo começa com uma solicitação via e-mail para marketing@cptm.sp.gov.br, em que se explica quando as fotos serão feitas e em qual estação, junto com uma descrição de como esse material será usado. Também é preciso comprometer-se a não vender as fotos. Aqui no Pseudopapel isso não é um problema, pois todas as fotos tiradas por mim são liberadas em Creative Commons.
A solicitação é encaminhada então para a área de operações responsável, que autoriza ou não que as fotos sejam feitas, usando como critério o “projeto” apresentado. E como é necessário apresentar o “projeto”, isso praticamente elimina a possibilidade de que sejam autorizadas fotos meramente para arquivo pessoal. Sem “projeto”, sem fotos. Ao menos, parece — parece! — que serão autorizadas solicitações para alimentar a Wikipédia ou o site Estações Ferroviárias. Essa burocracia toda, se seguida, impediria que eu publicasse postagens como as sobre o último dia da Estação Tamanduateí (seu fechamento foi comunicado na última hora) ou sobre algumas cenas de lotação na Estação da Luz. Vale destacar que tanto a chefia da estação como o departamento de Marketing informaram que não era necessária autorização para fotografar os arredores de cada estação. O problema é a partir do momento que se entra nas mesmas.
É difícil imaginar por que a CPTM ainda tem uma regra oriunda dos tempos da ditadura. Talvez pelo mesmo comodismo que a faz manter a sinalização antiga em boa parte da Linha 7-Rubi, três anos depois da última mudança. A regra é ainda mais anacrônica se lembrarmos que hoje não só câmeras point-and-shoot já têm recursos bastante similares aos de câmeras profissionais, como também com celulares é perfeitamente possível bater fotos sem ser percebido. Mas, se a câmera parecer profissional, só com autorização. Qual é a grande preocupação? Que alguma empresa use a foto num anúncio e crie um slogan como “o xampu da Estação Guapituba”? E se criar? O departamento Jurídico da empresa não é tão ágil quanto os seguranças? (Não sei, mas duvido que seja tão cortês.)
Preservar a memória ferroviária é algo que sem a menor dúvida tem sido feito melhor pelos inúmeros usuários que mantêm sites, blogs e fóruns do que pelas empresas que dela deveriam cuidar, sejam elas públicas ou não. Mesmo a imprensa pouco ligou para a Estação Tamanduateí antiga no dia de sua desativação, para ficar em um de inúmeros exemplos. Quando a CPTM lança algum livro sobre a memória ferroviária, ele geralmente é presenteado a diversos “ilustres”, que o recebem e guardam em uma estante empoeirada sem sequer abri-lo, isso se não jogarem fora direto. Já a quem esse material de fato interessa, resta esperar meses ou anos até que alguma rara cópia apareça em um sebo.
Se dependesse da CPTM, um site como o Estações Ferroviárias, do meu pai, não seria possível. E mesmo lá fotos dos anos 1960, 1970 e 1980 são raras, não só porque era mais caro tirar fotos naquela época, mas também porque, no caso das estações, era simplesmente proibido. Até quando vai ser?
Ótimo texto. Se não me engano, não sei se ainda é, mas há alguns anos atrás isso também era proibido no Metrô. Tenho lembrança de já ter visto seguranças de lá fazendo a mesma abordagem.
Nos EUA há lugares públicos onde também se proíbem fotografias. Dizem, paranoicamente, que é por questões de segurança.
O único argumento mais sensato que já ouvi foi em museus, onde permitem fotos mas proíbem flash. Dizem que é para preservar as obras. Talvez seja verdade.
Será que a proibição é válida nos termos da lei?
[]s
Fabio
No Metrô, proibiram-me uma vez, nos anos 1990. Desde então, já fotografei bastante em estações de metrô, inclusive com a câmera que parece profissional, e ainda ninguém nem olhou torto para mim. Vamos ver até quando. Eu também entendo o argumento dos museus. O flash, se usado em demasia, realmente afeta as obras. No Arquivo do Estado, eu sempre tiro fotos de jornais antigos, mas sempre sem flash. Às vezes, bem às vezes, sai sem querer, mas ninguém olha feio, a não ser que seja um flash atrás do outro.
Aliás, existe um site que recebe fotos de lugares onde não se pode fotografar, o StrictlyNoPhotography.com.
Boa tarde, não existe proibição de fotografias nas imediações da CPTM. Infelizmente alguns setores da CPTM ainda não estão cientes dos novos regulamentos em relação à fotografia. Geralmente isto acontece nas estações maisdistantes do centro de São Paulo , é um problema gravíssimo de comunicação. Quando você tiver algum problema relacionado à proibição de fotografia, entre em contato com a Ouvidoria e encaminhe sua denúncia, pois é a única maneira para esses problemas serem sanados. Outro tipo de atitude que poderá ajudar na solução desses problemas é entrar em contato direto com o chefe da estação antes de tirar as fotos para não causar problemas. Fotografias na CPTM são liberadas desde o meio do ano passado, na qual um grupo de Foristas ( participantes da Comunidade ” CPTM – Você Também Anda, TGVBR e Skyscrapercity) e eu estivemos presentes em uma reunião com o Presidente da CPTM Sérgio Avelleda, da qual ele discordou totalmente da regra de proibição e que ele enxerga a fotografia como fator benéfico à imagem da empresa, uma vez que ela está crescendo e ganha visibilidade para àqueles que não conhecem. Se você olhar o novo regulamento da CPTM , a regra das fotografias está totalmente omissa. A única coisa que a CPTM pede para evitar é fotografia com o foco em pessoas ou funcionarios em serviço. O restante é liberado.
Se a fotografia é feita com cunho comercial e jornalistico, aí sim é necessário autorização de diversos setores da CPTM para tal. Para cunho pessoal-não comercial, é liberado
Se você usa a rede social do orkut, acesse o tópico ”Sobre Fotografias na CPTM” para ficar à par da situação e dos problemas enfrentados : http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=91288712&tid=5386251450272703796
Olá, Haiser. De fato, nas imediações das estações a CPTM não faz restrições, e tanto a chefe da estação como o departamento de Marketing frisaram isso. É bom até eu editar o texto acima para inserir essa informação. Entretanto, a partir do momento que se adentra as estações, as fotos são proibidas de acordo com o Marketing da empresa, a não ser que se tenha autorização. Essa informação veio do próprio departamento de Marketing, além da chefia da Estação Moóca, uma das mais centrais da rede. Vale ainda lembrar que eu nunca tinha tido problemas com fotografias na CPTM até adquirir uma câmera que lembra um pouco uma câmera profissional.
Sobre focar pessoas ou funcionários, em 2003 participei de uma espécie de “expedição fotográfica” pelas atuais linhas 8 e 9, monitorada pela CPTM, e avisaram que naquele dia poderíamos fotografar as estações, desde que não focássemos pessoas (fossem elas passageiros ou funcionários), a não ser, claro, os próprios participantes da expedição. Com essa regra concordo, apesar de em certos casos ser impossível evitar que pessoas entrem no foco. Nesses casos, eu bato várias fotos e, na hora de publicar, escolho as que têm menos pessoas identificáveis. De qualquer maneira, é algo a se pensar.
Não sei se fotos para este blog seriam encaradas pela empresa como “cunho jornalístico”, embora certamente seja uma iniciativa não-comercial. Mas, de novo, o que o departamento de Marketing da empresa informou é que, se fossem fotos batidas para uso estritamente pessoal, como guardar no computador, não seria possível obter autorização, pois não havia um “projeto” e, desta maneira, as fotografias não poderiam ser tiradas.
Mas bom saber que existe o canal da Ouvidoria. Vou verificar. Seria bom que a autorização do presidente da CPTM seja divulgada para os próprios funcionários, algo que, pelo visto, não aconteceu. Vou também dar uma olhada no tópico do orkut, a que não tenho acesso deste computador.
Parece que tudo dará certo. Alexandre, a única coisa que posso falar sobre fotografia e máquinas fotográficas foi o que “aprendi” ouvindo de um amigo sobre as Hasselblad, Laika e Rolleiflex, que para mim ficou gravado na mente como Rollerflex. Corria o ano de 1981 e ele tinha como objetivo ter uma dessas máquinas.
Dele consegui comprar uma Minox que cabia no bolso da camisa e ele me falou que ela era usada pelos espiões. A máquina tinha muita sensibilidade e parece que também um fotômetro, mais ou menos isso.
Na minha viagem de mudança para o Rio ela foi roubada. Infelizmente.
abs
É, Gilberto, esses eram os tempos em que uma câmera que coubesse no bolso de uma camisa era algo raríssimo. Eu, na verdade, nunca tive uma dessas, nem das digitais. Eu gosto de ter algum controle com configurações manuais, e esse tipo de câmera geralmente não oferece, ao menos não por um preço razoável.
Sim, Alexandre, tudo o que o Haiser diz procede. O que talvez ele não tenha mencionado é um pequeno detalhe: todos os locais dentro da estação permitem fotografia, com exceção das bilheterias, SSO e chefia de estação por segurança operacional. Pra mim soou estranho que, por parecer uma câmera profissional houve uma abordagem de funcionários e Tamanduateí justamente local recém inaugurado em que os funcionários estão bem interligados com as operações mais centralizadas e o regulamento todo está com eles, então, não há desculpa dos funcionários em não saber de tais regras (sendo elas, como disse o Haiser, já “antigas” e há tempo implantada o suficiente para que todas as estações e funcionários novos ou velhos saibam delas). Agora, ao invés de uma restrição, há um mistério, do por que em pedirem esclarecimentos sobre as fotografias. Sobre o marketing: procede, o departamento é todo “complicado”. Se tiver um projeto sério, semelhante ao do seu pai, onde seriam necessárias autorizações e diversos agendamentos para fotografar (o que hoje não é necessário), para contar com o apoio e liberação do departamento pendurar-se no telefone diariamente de duas a três vezes ao dia para cobrar respostas e encher a caixa de e-mails de lá seria necessário. É muito complicado, já tive problemas para executar projetos acadêmicos há 2 anos atrás e contornei de forma alternativa.
Bom, por hoje é só, blog bom como sempre, abraços.
Olá, Italo. O grande problema é que, mesmo com o presidente da empresa declarando que não existe proibição, enquanto essa informação não chegar ao departamente de Marketing e, especialmente, às chefias de estações, a proibição continua existindo. Está na hora de fazerem um regulamento a respeito e publicá-lo, inclusive citando essa proibição de que você fala, algo que o Marketing não citou. Essa proibição até faz sentido, pois visa a segurança — embora em várias estações as bilheterias ainda funcionem de maneira precária, como na própria Estação Moóca. O que falta realmente é alguém divulgar internamente na CPTM qual é a política para fotos. Provavelmente se eu perguntar em outra estação vão me dar uma resposta diferente da que recebi na Moóca. Isso provavelmente não vai partir do Marketing, que parece bem satisfeito com o status quo. Teria de partir do presidente. E ele teria de cuidar disso com atenção. É a única saída que vejo.
Bom dia, Alexandre! Estou a seis meses tentando entrar em contato com a C.P.T.M. A respeito de uma imagem que tirei quando estive em São Paulo.
Mais tarde, comecei a escrever um livro que sairá em breve e eles, após meses de ligações, me informaram sobre seu site. Li em seu site que você disponibiliza gratuitamente as imagens, desde que haja devidos créditos ao autor. Mas, nos últimos meses me tornei fã do seu trabalho e decidi fazer esse contato. Visto que, quero fazer uma homenagem ao povo de São Paulo, escolhendo uma imagem de seu site para pôr na capa. No entanto, mesmo você apenas pedindo créditos, gostaria de conversar com você sobre e pedir formalmente a autorização, nem que seja por e-mail. Desde já, será uma grande honra!
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Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).