Pseudopapel

Da Barra Funda à Luz (o outro lado)

Primeiro novo trem da Linha 7 da CPTM

Na semana passada postei fotos da viagem entre as estações Barra Funda e Luz pela Linha 7-Rubi da CPTM. A ideia era mostrar algumas cenas que passam pela janela, mas poucos veem, ou por causa da lotação ou por causa das janelas baixas ou simplesmente porque não têm interesse. As fotos da semana passada foram tiradas do lado direito do trem. As fotos a seguir são as do lado esquerdo, tiradas em outro dia. Na verdade, foram até tiradas uma semana antes (em 6 de maio). O céu estava mais bonito, mas, como a linha nesse lado fica voltada mais ou menos para nordeste, não dá para perceber isso pelas fotos.

A primeira foto, acima, é a única que não foi batida no trecho citado: ela foi batida na estação Lapa e mostra o primeiro (e até agora único) novo trem que a CPTM colocou para rodar na Linha 7, voltado para o sentido Francisco Morato. O curioso foi ter sido pintado de vermelho berrante, especialmente se lembrarmos que a cor da linha é vinho escuro. Curioso também foi o fato de que os alto-falantes da plataforma bradavam que ele não prestaria mais serviço naquela estação. Isso costuma ser feito pelo metrô quando há alta demanda de passageiros na estação anterior no sentido oposto, o que não era o caso às 7h27 da manhã em qualquer das três estações anteriores.

Depois de deixarmos a estação Barra Funda, passamos pela antiga estação Barra Funda da Estrada de Ferro Santos–Jundiaí, estação essa que muitos sequer sabem que existiu. O que sobrou da estação fica muito rente à linha, e é difícil fotografá-la por causa da velocidade do trem. Era de lá que saíam os Trens de Prata, que ligaram São Paulo ao Rio de Janeiro por algum tempo nos anos 1990. A foto mostra um pátio onde existia (ainda existe?) um equipamento de lavagem de composições, segundo Carlos Almeida e Mario Favareto.

Nos imóveis às margens da ferrovia, especialmente os industriais, muitas vezes é difícil saber se estão abandonados ou não. Não faço sequer ideia de como é feita a manutenção externa na área voltada para os trilhos. Pichar, nesses casos, é fácil, pois os pichadores não precisam respeitar nenhuma lei — sua atividade já é um desreipeito no mínimo às regras de civilidade. Limpar as pichações não deve ser tarefa fácil.

Esta foto é o grande motivo desta série. Dois dias antes, quando passei por ali de trem, vi esta pequena vila, que sequer aparece na versão “Mapa” do Google Maps. Ela chama bastante a atenção, não apenas pelas casinhas simpáticas, como também pela região onde está inserida, em grande parte industrial e decadente. Já a foto seguinte não mostra uma vila, mas o trecho sem saída da Rua Júlio Conceição, por trás de um ainda belo muro, que deve ter sido construído entre o fim do século XIX e o início do século XX.

Aqui vemos a Rua Silva Pinto, na esquina com a Rua Anhaia, um dos únicos pontos de todo o sistema em que se pode cruzar a linha do trem por baixo. Pouco depois desse cruzamento, a Silva Pinto muda de nome para Alameda Nothmann, passa por trás do Sagrado Coração de Jesus, cruza a Avenida Rio Branco e o Minhocão, morrendo um quarteirão depois, na Rua das Palmeiras, já em Santa Cecília. Quem passa por baixo da Linha 7 muitas vezes sequer percebe que há ali dois viadutos; o segundo é por onde passa a Linha 8, já quase na chegada à Estação Júlio Prestes. Para comparar com as fotos da semana passada, é o mesmo trecho onde falei do “corredor de prédios”.

As fotos a seguir mostram um mesmo trecho e funcionam mais ou menos como uma panorâmica se colocadas uma ao lado da outra. O trecho começa aqui e termina aqui.

O prédio da foto abaixo é o mesmo da foto anterior, embora deste ângulo pareça mais um daqueles imóveis industriais que vistos da linha do trem parecem abandonados.

A esta altura estávamos quase chegando à Estação da Luz, o que é facilmente perceptível na foto abaixo: mesmo com a posição do Sol atrapalhando os contornos, dá para ver uma das torres da estação logo acima das árvores e a gare. O prédio que também aparece na foto é este aqui.

Fanáticos por ferrovia certamente adorariam parar seus carros no estacionamento da primeira foto abaixo. O viaduto é o que liga a Rua Mauá, na altura da Rua General Couto de Magalhães, à Praça da Luz — no ponto onde começa a Rua José Paulino. A casinha da segunda foto, que fica imediatamente após o viaduto, também é muito simpática, mesmo não estando no melhor dos estados.

Fim de viagem. O trem chega à plataforma 2 da Estação da Luz, onde passageiros já esperavam para entrar nele e seguir na direção de Francisco Morato. Com a Luz tem apenas quatro plataformas, esse desembarque/embarque é um confusão. Geralmente, as primeiras pessoas conseguem sair do vagão sem grandes problemas, passando por um “corredor” formado pelos que esperam para entrar. Só que de repente começa o estouro da boia… quer dizer, dos passageiros, e os últimos a sair têm grande dificuldade. Mas isso é assunto para outro texto.

3 comentários

Erivelto de Jesus Souza (14)

A curiosidade nunca termina! Na sequencia de seis fotos desta matéria e na foto posterior dá para ver em parte e em um plano mais alto que a ferrovia algo sobre o qual tenho muito curiosidade: o pátio existente antes da estação da Luz. Indo fazer serviços na Lapa sempre volto do lado esquerdo do trem para observar este pátio e o que há nele. A minha suposição é que além de pátio o local sirva de oficina de trens e também, infelizmente de ferro-velho/cemitério (vide a quarta foto da sequência), pois lá também existem locomotivas que adoro observar, embora me recorde que só dê para ver a primeira e a segunda quando o trem chega ao início do pátio, das quais não conheço a denominação correta (como esta que vai puxando a composição http://www.estacoesferroviarias.com.br/l/fotos/luz9781.jpg . Pelo Google Maps contam-se quatro, mais uma composição de cinco vagões antigos – seria o trem de prata?), mas que com certeza contariam muitas histórias se falassem. Uma pena que o interesse da CPTM seja, talvez, nulo em mostrar a história das ferrovias no estado permitindo a visitação ao local como parte do Expresso Turístico com monitores para falar um pouco a respeito do lugar e quem sabe até colocar aquelas locomotivas a funcionar para puxarem os vagões dando maior nostalgia ao passeio (deu para perceber como gosto desta palavra, não deu?).

20 de maio de 2012, 22:21

Alexandre Giesbrecht

Olá, Erivelto. Não sei se esse pátio da Luz serve como cemitério, não. Já vi material rodante em mau estado ali, mas nunca por muito tempo. Poderia estar sendo reformado ou sendo usado como peça de reposição, o que, acredito, era o que estava havendo com o material da foto. De qualquer maneira, não tenho como confirmar isso. De repente, poder ser que ali seja o primeiro passo antes de qualquer material seguir para o cemitério, em outro lugar. Realmente, não faço ideia.

21 de maio de 2012, 19:28

Erivelto de Jesus Souza (14)

Na verdade me referi a cemitério porque as peças onde aqueles senhores na quarta foto estão sentadas estão realmente abandonada e as locomotivas antigas também me parecem partilhar desse abandono, igual aos vagões de passageiros existentes próximo ao viaduto São Carlos na linha para Rio Grande da Serra!.

21 de maio de 2012, 20:13

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Quem?

Alexandre Giesbrecht nasceu em São Paulo, em abril de 1976, e mora no bairro do Bixiga. Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, é autor do livro São Paulo Campeão Brasileiro 1977 (edição do autor).

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